domingo, 9 de junho de 2013

Reflexões aquáticas



Outro dia estava relembrando do início da minha vida aquática. Nós, eu, minha irmã e a patota, frequentávamos a piscina do colégio, todos os domingos às 6 horas da tarde, durante a temporada de verão. Foi em 1992, que tudo começou, de verdade. A piscina tem uma parte mais profunda, os típicos 2m, com um degrau junto à parede para a gente descansar. E bom para os iniciantes, aqueles que tem medo d'água.

Foi tudo tão rápido, não tive tempo de reagir, ela me empurrou da beira da piscina. Tomei três caldos, não pensei que ia me afogar, não pensei nada, foi muito rápido. Quando subi pela terceira vez uma moça forte chamada Solange me agarrou pela mão e me puxou de volta para a beirada.

Daí em diante comecei a tentar algo, a brincar na parte funda, não me lembro muito bem dessa parte. Eu tinha vergonha, o pessoal veterano todo sabia nadar. Algumas meninas da minha idade também. E eu só sabia mergulhar. E não sabia jogar vôlei nem basquete. Eu queria praticar um esporte. Me propus a aprender a nadar igual aquela gente toda, mas sem acreditar muito. Sonhava apenas com esse dia.

Foi um processo lento, primeiro aprendi o nado peito, como um processo natural de se mover dentro da água. E depois o crawl com muito dificuldade. Mais adiante fiz aula na PUC-RS, foi quando aprendi o nado costas e corrigi os defeitos do nado crawl. Na Escola Superior de Educação Física da Ufrgs aprendi as viradas de todos os nados e algumas dicas secretas.

Hoje, nado tranquila, se der uma cãimbra daquelas me agarro na raia. Até hoje não deu. Às vezes tenho medo, quando não tem raia, procuro nadar perto da borda. Tirei minha carteira de 'motorista aquática', finalmente. Quando tem muita gente às vezes a gente dá uma 'pechada' ainda. Tem quem faça de propósito, depois pede muita desculpa.

Teve uma época que nadei tanto, que fiquei com uma alteração hormonal no sangue. Eu tinha a testosterona livre, muitíssimo aumentada e pra espanto dos médicos, sem sintomas externos de virilização. Eu nadava na Sogipa, e coincidência ou não, acabei me consultando com um médico clínico geral que fizera um estágio na Sogipa. Foi quando fiquei sabendo que eu estava exagerando.

Apesar de tudo não me arrisco no mar, só se amarrar uma corda no meu pé, bem comprida, antes de entrar. A única e última arriscada da minha vida foi nadar cerca de 2 Km adentro na Lagoa de Ibiraquera nas margens do Iate Clube. Tremi na base e orei muito quando despencou um temporal em cima de mim, nadando de costas pra ter fôlego, e olhando sempre pra ver se estava perto da outra margem. Tive medo da correnteza, que ela me desviasse da minha rota e eu me cansasse.

Dois homens se aproximavam num barco a motor. Acenei muito e pedi socorro. Eles se aproximaram. Um deles segurou forte na minha mão e disse pra eu não largar. Eu não podia entrar porque o barco viraria. Me levaram até a margem. Um deles desceu e eu embarquei. Dentro de alguns minutos estávamos no Iate Clube onde toda o acampamento me aguardava de olhos esbugalhados. Me entrevistaram pra o programa da noite e tal, foi um vexame. Investigaram sobre a minha saúde mental. Falei que tava precisando de uma emoção forte, coisa de jovem desmiolado.

Ano passado fui visitá-la. A gente se considerava gêmeas, em 1992, quando ela veio estudar pra cá. Ela me deu uma alemoinha de pano do artesanato de Blumenau. Casou com um engenheiro civil, tem um filho pequeno e tagarela. Mora numa casa de três andares, tem um carro velho e uma cadela chamada Schnib que anda junto com eles no carro velho. Estuda a psicologia. E continua arteira, e continua me criticando e me desafiando. Agora ela mandou eu voltar casada.