quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Dia em que o Céu caiu



Logo que entrei na Ufrgs a prática de educação física não era mais uma disciplina obrigatória. Foi uma pena porque de qualquer maneira eu precisava fazer algum exercício. E ainda teria que pagar por ele.

Por alguns meses fiz natação na semi-olímpica da Esef. Pra quem é desesperado por natação aqueles vestiários congelantes no inverno eram um mero detalhe. Aliás, o desafio de enfrentá-los tornava a natação ainda mais especial.

Mais adiante minha colega Luciana me convidou para jogar no time de basquete da Esef. Ela entrou no time oficial e eu no outro, o dos que estavam aprendendo. Não aprendi grande coisa. Meu esporte é a natação.


Um fato marcante naquelas noites foi o vento terrivelmente gelado, de urrar, que lambia a nossa pele na esquina da Santa Casa na volta do treino. E também as corridas para pegar o Jardim Botânico na João Pessoa. Eu sempre ficava pra trás.

Que memórias!

Mais adiante descobri uma promoção de 50% para universitário na Sogipa e me matriculei. Lá vivi no paraíso. Era legal por causa dos eventos esportivos que eu assistia frequentemente e também porque eu podia nadar nos finais de semanas e feriados. Também passei muito frio no trajeto entre o vestiário e a piscina. Aliás, é assim em toda parte. Até na Puc com aquela infra-estrutura toda de última geração tu tiritas de frio. Quando abre aquela porta de vidro então nem se fale. A diferença de temperatura forma um vento digno de pneumonia...


Ultimamente tenho nadado numa piscina relativamente pequena, destas de hidroginástica. Esses dias em um momento viagem interrompi a natação e fiquei parada mirando o teto cor de água que estava acima da minha cabeça.

No segundo andar fica a musculação. Toda aquela parafernália com os seus respectivos pesos e também os halteres e as anilhas. Tudo tão levinho que se caísse na piscina ficaria boiando n’água. Tendo me dado conta do perigo que me ameaçava concluí que eu sou confiada demais e que o ser humano não faz nada que seja bom de todo.

Terminado o treino entrei no vestiário e em poucos minutos, uns 45 min, estava pronta para tomar o caminho de casa: mais 10 min à pé. Assim o fiz alegremente porque o exercício me deixa muito pra cima, tanto que eu seria capaz de sair abraçando os meus poucos inimigos.
Por esse motivo que a médica nutróloga me mandou tomar aminoácidos após o treino. Não, não é para eu não sair abraçando os meus raros inimigos. Pelo contrário. É pra prolongar o efeito ‘felicidade plena’ do exercício e eu consequentemente ter mais tempo para abraçá-los. Ki lindu!


Por azar naquele dia o céu estava cheio de cúmulos nimbos anunciando tormenta. Não que eu a despreze.
Qualquer um deles: a tormenta, o toró, o pé d’água, o temporal, o pedilúvio são para mim a manifestação da natureza de que está viva.

- Ei terráqueos! Olha eu aqui de novo. Olha o relâmpago. Sorria!

O relâmpago sempre nos atinge antes que o trovão. As pessoas dizem que ele chega antes. Pudera! A luz se propaga quase um milhão de vezes mais rápido que o som.
Tem dia que a natureza furiosa mata terráqueos com seus dardos de descargas elétricas.

- Pra que tanto ódio Natureza?

- Eles estão me destruindo. Os humanos, buáááááá, estão me destruindo.

Ele chora copiosamente inunda rios e arrasa plantações. No outro dia um pouco mais consolada sorri um solzinho mixuruca. Passada uma semana ela já esqueceu as mágoas e sorri um sol brilhante.
Assim é a natureza. Sentimental.


Pela estrada alegre eu ia bem contente quando aconteceu o inacontecível: o céu desabou na minha cabeça. Tive que segurar um palavrão destinado ao engenheiro do céu.
Literalmente fiquei esmagada debaixo da abóbada celeste. Se pelo menos ela tivesse caído por inteiro eu teria escapado do esmagamento visto que o seu formato é côncavo para cima.

Mas não, ele caiu e despedaçou-se nas minhas costas. Nunca tinha pensado nessa possibilidade todas aquelas vezes em que olhei embevecida para o firmamento.
E eu, gemendo ali em baixo daquele peso todo, olhei para o lado e vi que o carinha da raia adjacente continuava nadando. Pombas! Fingi que nada tinha acontecido e meti o braço n’água outra vez.



Foto da Formatura_2






Foto da Formatura_1






Discurso de Formatura







Ilustríssimo diretor do Instituto de Matemática professor doutor Rudinei Dias da Cunha, iustríssimos professores homenageados professores doutores Vilmar Trevisan e Luís Fernando Carvalho da Rocha, ilustríssimo funcionário homenageado secretário José Leonardo Galicchio Aronna, prezados pais, queridos amigos e demais componentes da mesa.


Nós, agora bacharéis em matemática, quando ainda estudantes, frequentemente ouvíamos perguntas sobre o caráter do nosso estudo:
Qual a aplicação da Álgebra Linear?
Pra que serve a Análise Matemática?
Pois bem, qual é a moral de correr 90 minutos atrás de uma bola? Pra a maioria é exercitar o corpo e aumentar o vigor. Da mesma forma, o bacharelado em matemática serve para exercitar o cérebro e desenvolver a inteligência. Além de cumprir com a sua função básica que é a de nos ensinar os fundamentos desta ciência.
Tais considerações lançam uma vaga luz sobre essa tão mal interpretada área do conhecimento. Minha missão nesta noite é desmistificá-la.


Acompanhe comigo uma aula de Geometria Diferencial. O professor dirige-se ao quadro e escreve: Uma superfície é dita orientável quando existe uma função normal definida em todos os seus pontos. Por exemplo: A esfera é uma superfície orientável. Contra-exemplo: A faixa de Möebius não é orientável. Nesse instante alguém interrompe a aula e divaga: Imagina o Pequeno Príncipe na faixa de Möebius. Fiquei imaginando quantas milhares de pôr-do-sóis ele poderia contemplar caminhando sobre esta superfície. Ao que o professor responde: Deixa de Saint-Exupéry. Te aconselho a ler o escritor argentino Luís Borges.


Jorge Luís Borges era um aficcionado pela lógica e análise matemáticas. Entretanto o pueril piloto de aviões Antoine Jean Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint-Exupéry desde cedo aprendeu o valor do Cálculo Diferencial e Integral segundo ele mesmo conta no Pequeno Príncipe: As pessoas grandes me aconselharam deixar de lado os desenhos de serpentes abertas ou fechadas e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática.


A aula prossegue. O professor volta a escrever no quadro e agora demonstra usando a definição que a faixa de Möebius não é orientável. Outra divagação: E a teoria da contestação de Nietzsche, onde fica?


Não que exista tal teoria de fato. Era só pra testar o professor. A questão levantada em sala de aula era se aquilo que nos fora ensinado é ou não uma verdade absoluta. A propósito: a teoria do eterno retorno de Friederich Nietzsche foi indiscutivelmente contestada por Luís Borges que para tanto fez uso da Teoria Probabilística.


Resumindo: Há na matemática espaço para a dúvida e para o questionamento no que se refere à definições e à postulados, porém não no que se refere à demonstrações. Pois ao contrário da fragilidade dos argumentos e da dissensão típica das humanidades a matemática exibe uma construção sólida e clara, que a todos se impõe com a força de demonstrações incontestáveis e que atravessou incólume as crises de pensamento instauradas pelos novos ventos da Renascença.
A validade das proposições matemáticas parece pairar acima das contingências de espaço e de tempo sugerindo a possibilidade de seguras e perenes verdades imunes à corrosão do ceticismo.


Mais do que isso, segundo Frans Burman, teólogo contemporâneo do matemático e filósofo De Kart, com quem trocou algumas idéias, a matemática acostuma o espírito a reconhecer a verdade porque encontramos nela raciocínios rigorosos que não encontraríamos alhures. Em consequência, uma vez afeito o espírito aos raciocínios matemáticos te-lo-emos também tornado apto à pesquisa de outras verdades posto que em toda parte há uma e somente uma forma de raciocínio.



Greve e Sacanagem na Ufrgs



A Universidade está se encaminhando para uma nova greve. O professor entra na sala, coloca o molho de chaves e o livro em cima da mesa, e começa a choramingar o tamanho do salário:

- Eu ainda não descobri uma maneira rápida de ganhar dinheiro, hoje em dia só se o cara for traficante. Tu viu? Os servidores da USP já estão fazendo greve.

- Quem? A OSPA?

- Que significa OSPA?

- Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.

- Não, é a USP.

- Que interessante! A OSPA não está fazendo greve. É que a música por si só satisfaz.

- É. A música dá prazer. É uma boa resposta.

Outra vez o professor lembra com saudades dos tempos da juventude:

- Quando eu era jovem, feliz e contente, eu...

- Que tu queres dizer? Que hoje tu não és feliz e contente?

- Tu não tens saudades da tua infância querida que os anos não trazem mais?

- Se eu fosse tu eu procurava ajuda.

No dia da prova encontro o professor sério e formal:

- Oi.

- Bom dia.

- Não sei pra que fazer pose de coronel em dia de prova.

- Tu estás me chamando de velho.

- Não estou não.

- Pra ser coronel tem que ser velho.

- Eu não sabia, estava falando de poder e não de idade.

O professor entrega a prova para os alunos e começa a ler as questões em voz alta. Protesto:

- Espera aí, essa questão aqui é aquela que tu não quiseste resolver na aula de exercícios. Que sacanagem!

- É. Eu sou sacana.

Motivação para a Leitura



Well, isso aqui é uma visão discente da Ufrgs.