segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A sessão de fotos




Dia 12 de outubro. Foi o dia que a produtora agendou para as nossas fotos do convite de formatura. Perdemos de passar o dia no lazer ou no ócio (pra quem gosta), mas ganhamos um dia de celebridade: foto com barrete, sem barrete, séria, sorrindo, vibrando, mandando beijo, vibrando, festejando, deu pra encher um álbum.

As gurias da comissão de formatura tiveram a grande idéia de levar um espelho grande de parede. Sorte minha porque saí de casa apressada e nem tive tempo de passar batom. Vermelho. Que coisa pomposa. A toga. Uma moça ligeira me vestiu. Falou: Anota ali no papel: GG. Só roupa de formatura mesmo. Meu colega criticou, pra ele é coisa ultrapassada.

Mas arcaico mesmo foi o sino da igreja repicando às 9 horas da manhã. Não sei como conseguem, em pleno século 21, tudo digitalizado, eletrônico. Deviam baixar um toque de sino direto do site do Vaticano.

Eu, verbo solto, falei bem alto que poderiam ter colocado um fundo infinito pra clicar a gente. Acho que a fotógrafa ouviu. Antes de fotografar o meu grupo (formamos grupos de 7 ou 8 pessoas) ela falou o que já tinha falado pra todos os anteriores: Vocês desculpem essa parede manchada e descascada aí atrás. É o que a casa oferece (A UFRGS). Depois ela sorriu e explicou: É brincadeira tá pessoal. Podem ficar tranquilos que os nossos designers gráficos vão fazer um recorte e colocar alguma coisa relativa ao curso de vocês no fundo da foto. Ufa!

Éramos só três do bacharelado além dos trinta e três da licenciatura. Aproveitei a demora inicial da produtora pra conversar com os meus dois colegas. Conversávamos sobre banalidades e eu empolgada introduzi o assunto da literatura. Eles ficaram atentos. Contei a eles que eu estava escrevendo umas coisas e que planejava publicar um livro algum dia.

Tão logo chegou a produtora subimos as escadas perigosas e barulhentas daquele prédio amarelo que fica de frente pra o Parque da Redenção. É mais conhecido como Anexo 2 da Reitoria. Lá fizemos as fotos com a camiseta do curso naquele fundo maravilhoso. No intervalo das fotos eu tentava puxar conversa com os guris e eles só respondiam o que eu perguntava. Depois ficavam calados de novo. Eles são um poço de comunicação. Ou eu que sou chata mesmo.

Terminada a sessão descemos as escadas para a foto no logo da universidade. A grama estava molhada da chuva recente. Foi emocionante.

Criei um apego por esta universidade. Céus! Ela construiu o meu futuro. E não foi só o diploma. Grande parte das idéias e filosofias que circulam na minha mente foram filtradas, analisadas, formadas e discutidas nos assentos, corredores, salas, bibliotecas e bares. Ela me ensinou a pensar.

Finalmente após uma série de cliques de duas sequências de fotos com dois fotógrafos distintos subimos as escadas de madeira de novo, agora para a foto individual. Desta vez noutra saleta com fundo infinito e todo o aparato de estúdio fotográfico. A gente ia tirar aquela foto em que todo mundo sai bonito: a foto "salva feio". Também todo mundo produzido, né?

Enquanto aguardávamos voltei a puxar conversa com os meus coleguinhas. Estávamos em pé. As cadeiras amontoadas num canto. Meus pés cansados do salto alto. Falei da minha pressa. Fiz um pequeno drama. O Daniel chispou: Como tu é ansiosa Lisany. E eu não só confirmei, como acrescentei: Sou ansiosa mesmo, sou tão ansiosa que chego até a pensar no meu velório. Às vezes imagino se será trágico, se estará lotado, se o dia será chuvoso, se o pastor fará discurso breve, se contarão uma pequena biografia sobre mim.

O Daniel e o Leandro me sugeriram solicitar como eu gostaria que fosse para aqueles que estivessem em vida colocassem em prática. Fui direta: Festivo. Definitivamente não gosto de choradeira.

Conversa vai silêncio vem ficou combinado que o Daniel faria o juramento e eu, pra minha alegria, o discurso. Explicaram: Já que tu gosta de escrever. E eu que tinha chegado na Reitoria triste, refletindo sobre os últimos acontecimentos desagradáveis da minha vida saí de lá bem entusiasmada. Afinal de contas sempre fora meu sonho fazer o discurso de formatura. Nem vergonha de falar em público eu tinha. Superei com facilidade a timidez dos meus 15 anos. Não que eu seja a Fafá de Belém com aquelas gargalhadas espontâneas e falar desabrido. Mas perco a noção de público quando estou tomada por alguma emoção forte. Não enxergo ninguém. E também sou de Belém.

Guardei uma frase do produtor. Eles fazem todo tipo de eventos, desde batizado até funeral. Ele contou a frase que ele mais ouve em festas de casamento: Meu pai já casou contigo, meu irmão já casou contigo, minha prima já casou contigo, agora eu vou me casar contigo.

No words.


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