terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sobre ombros de gigantes




Quem vive no meio cientista conhece bem a luta dos pesquisadores pra ter um artigo ou teoria creditado ao seu nome. Robert Hook foi um desses. É. Aquele matemático que formulou a Lei de Hook, que serve pra descrever o movimento de uma mola, e que serviu pra modelar quase toda a Física. Tem físico que diz "A Física é a física do oscilador harmõnico".

Acontece que Hook construiu a sua teoria com base no trabalho do cavaleiro Sir Isac Newton. E como ele era um sujeito humilde - mui - teve que reconhecer a superioridade e importância do colega. "Se eu tenho visto mais longe é por estar apoiado sobre ombros de gigantes".

O gigante era obviamente Newton, que era bem baixinho.


Uma do Patropi




Me lembro bem do dia em que eu fui pra aula com um moletom amarelo enfeitado com três flores bordadas. O meu colega, vulgo Patropi, olhou aquilo e falou: Lisany, não passa na frente do Jardim Botânico com essa roupa que eles vão te recolher. He he he.


Tramando em sala de aula




Tinha um professor que saía no meio da aula pra, diz ele, ir ao banheiro. "Porque eu tomei muita água". Um dia, após ele fazer isso, falei pra os colegas, dois só, que ele tinha ido consultar a demonstração do teorema no livro.

Daí uns minutos ele voltou e perguntou o que a gente estava tramando. Repeti pra ele o que eu tinha sugerido pra os colegas. Sabe que ele gostou da brincadeira? Dali em diante ele não disse mais que ia ao banheiro. Em vez disso dizia que ia consultar o livro.

Eu tinha um péssimo costume de chegar atrasada na aula, não suportava aquela lenga-lenga inicial. Eu gostava de chegar depois que a aula já tinha pegado no tranco. Muitas vezes me senti desconfortável ao fazer isto porque não é muito respeitoso. Até o dia em que o professor chegou atrasado também.

Na outra aula bem cara de pau me justifiquei: Se até o professor chega atrasado quem sou eu pra chegar na hora?

Hoje em dia eu só chego na hora. Cansei da rebeldia.

Tive uma amiga, a Luciana que me ensinou algo importante: Antes pegar meia aula do que não pegar aula nenhuma.


O Gabinete da Reitora




A primeira vez que eu a vi foi em uma formatura. Ela ia a todas incrivelmente e pronunciava um discurso inflamado. Eu tinha certeza que ela ia ingressar na política. Pra mim ela era uma celebridade, uma dessas mulheres de ferro. Eu queria chegar perto dela pra ver se ela parecia tão fantástica de perto como de longe. E demorou. Só consegui realizar este sonho no dia em que ela veio discursar no ILEA, no Campus do Vale.

Peguei duas gestões da Wranna Panizzi na Ufrgs. Eu, às vezes, ficava rodeando a reitora, pra ver se ela passava onde eu estava, mas ela só passava de longe. Cheguei a subir lá no gabinete dela. Dizia: GABINETE DA REITORA. Bem assim, no gênero feminino. Mal tive coragem de espiar lá pra dentro. Era muita ousadia, até falta de educação, ficar bisbilhotando a reitora, eu calculava.

Então chegou o meu grande dia de sorte e eu fui assisti-la e ouvi-la no auditório do ILEA pela primeira vez. ILEA é a sigla do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados. A sala estava lotada. Tinha gente sentada até no carpete.

A reitora discursou por alguns bons trinta minutos sem ser interrompida nem vaiada, e no final abriu um espaço pra perguntas. Choveram pedidos de verba. Inclusive, imaginem que miséria, pra papel de impressora. Foi quase cômico. A Wranna prometeu atender a todos e à fulana do papel de impressora também.

É comum faltar dinheiro pra papel de impressora na Ufrgs. Alguns professores tiram do próprio bolso, outros ficam economizando o máximo que der. E também falta no banheiro tanto papel higiênico quanto papel toalha. É artigo de luxo.

Desta vez eu não podia perder a chance de ver a reitora de perto. Antes que ela saísse do auditório me postei ao lado de fora da porta. Logo ela apareceu e ficou olhando pra ver se eu queria alguma coisa. Eu virei pra o lado desconcertada e tentando disfarçar.

Fiquei bastante realizada por conhecer a reitora de ferro, dois mandatos na Ufrgs quase completos. Só fiquei triste porque não falei com ela. Mas falar oquê? E ela estava com muita pressa. Pensando bem. Podia ter pedido um autógrafo.