quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O verdadeiro Sherlock Holmes, parte V



Essa é pra terminar. É um relato sobre Conan Doyle, como conferencista espírita, que se aproxima bastante, pra não dizer é tal e qual, o 'método investigativo' do seu personagem.

Quando nosso barco partiu do porto de Sydney, Austrália, com destino à Nova Zelândia, alguns tripulantes pareciam estar ansiosos. Sabe-se que muitos marinheiros são supersticiosos. Ouvi um deles dizer:"Cáspite! Temos a bordo seis pilotos do céu! Certamente teremos uma viagem tormentosa. Talvez o barco afunde antes de chegarmos ao porto".

O marinheiro enganou-se, pois o mar da Tasmânia esteve calmo como um lago durante toda a viagem.

Os seis pilotos do céu equivaliam a quatro ministros protestantes, um sacerdote católico e Sir Artur Conan Doyle, famoso como autor de Sherlock Holmes e como um dos mais destacados espíritas do mundo. Sir Artur possuía uma personalidade impressionante e era muito bom de conversa. Viajava pelo mundo todo, proferindo conferências em favor do espiritismo, e imaginara desfrutar uns dias de repouso durante a viagem. Equivocou-se, pois logo estava envolvido em uma série interminável de entrevistas e sessões.

Meu companheiro de camarote, representante de uma grande empresa industrial, planejava permanecer duas semanas na Nova Zelândia. Morava em Sydney. Pouco depois de nossa partida dessa última cidade, disse-me:
-Devo possuir faculdades parapsicológicas, pois desde a infância tenho estado a ver coisas. Creio que falarei com Sir Artur.

-É provável que você acabe se tornando-se espírita, adverti.
-Oh não - retrucou - jamais serei espírita. Não tenho qualquer inclinação religiosa,nem mesmo frequento igreja alguma.

Eu, porém, sabia o que estava dizendo. Quando ele retornou da entrevista parecia estar andando no ar.

-Meu amigo, comentou ele, este sujeito sabe mais a meu respeito do que eu próprio. Assim que iniciamos a conversa, quando lhe contei algo de minha pessoa, ele me disse:
"Você foi uma criança prematura não é certo?".
"Sim, repondi. Nasci de sete meses".
"Sua mãe também foi prematura - prosseguiu - e também o foi a sua avó". Informou-me vários outros dados.
"Como você sabe tudo isso?" perguntei.
"Dir-lhe-ei mais - continuou. Não apenas a sua avó, como os seus bisavós até a quarta geração foram prematuros. Você pertence à sétima geração e ao sexo masculino. Isso o torna um médium nato". Prosseguiu dando-me toda sorte de dados científicos e propôs: "Se você concordar gostaria de usá-lo como médium durante esta viagem".

Perguntei ao meu companheiro se ele consentiria com a proposta,ao que ele respondeu: "Claro que sim. Às quatro da tarde terei minha primeira sessão".

Cinco dias depois, ao despedir-nos, este senhor fizera arranjos para acompanhar seu no vo chefe a Londres. Não estou certo que tenha concretizado o plano, mas sei que enviou telegramas à firma e à família, informando-os da decisão. Nunca mais o vi.

A referida viagem proporcionou-me a oportunidade de estudar o espiritismo sob um outro ângulo. Não estou a par de todos os "dados científicos" apresentados por Sir Artur Conan Doyle a respeito de médiuns nascimentos prematuros. Mas sei que o salão reservado ao líder espírita pelo comandante do barco, esteve constantemente ocupado com a realização de sessões, e estas não eram desorganizadas nem vulagares. Dezenas de pessoas aproveitaram a "oportunidade" para assistir-lhes, e entre eles podiam ser vistas importantes personalidades.



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