domingo, 18 de maio de 2014
Máquinas da Democracia
"Muito se há dito e escrito ultimamente sobre o 'americanismo'. O homem dos Estados Unidos, em sua nova introspecção, procura com insistência algum traço, algum hábito ou essência, que possa ter tido como americano e único. Este estudo está se tornando cada vez mais penoso. Aqui e ali investigadores chegam a suspeitar do valor das estatísticas, dos gráficos, das médias, das curvas, das tábuas e dos mapas plantados de alfinetes cabeçudos. E pedem aos poetas que lhes exprimam, numa visualização, o americanismo.
É possível que os vates hajam conseguido mais que os estatistas. Os leitores de Carl Sandburg, que lhe apreendem o todo da poesia, ficam em suspenso e fazem esta pergunta. Em Vincent Benét encontramos uma sugestão do americanismo mais impressionante que todo o esforço da Brookings Institution.
Existiu na adolescência da nação um americanismo fácil de ser formulado - mas já desapareceu. O 'cleft dust' de Benét - o pó, as esquírolas da clivagem - era diferente de todos os modos europeus, a não ser que recuemos até aos nômades que, originariamente, migraram para os sertões da Europa, vindos do Oriente ou do Sul. O modo americano era o modo solitário. Não um individualista na acepção que damos hoje a este surrado termo, isto é, um produto do desapontamento; mas um indivíduo completo em si mesmo. O sufixo ista aparece quando o americano já ia deixando de ser a coisa designada. Como todos os 'istas', ele era uma criatura frustrada, desapontada. Remova-se a oposição que gera os 'istas' e desaparecerão os fascistas, os comunistas, os feministas, os militaristas, os pacifistas, os coletivistas, e surgirão grupos humanos normais, gente do comum, fêmeas, militares, homens pacíficos, seres gregários - se é isto o que por natureza eles são".
O americano, portanto, na fase do pioneirismo, foi um ego integral. O seu não-ego - o mundo externo: a floresta. Por meio de processos por ele mesmo concebidos, derrubou as árvores, arrancou os tocos, estabeleceu-se na terra e fe-la menos agressiva para os que vieram depois. A tecnologia que neste processo o americano desenvoldeu tornou-o coletivo.
Há perigo nesta afirmação. É excessivamente perigoso personificar, ou deificar, a Tecnologia, a Máquina. Tudo não passa de coisas feitas pelo homem e não devem ser confundidas com elementos naturais, tempestades, terremotos, queda de meteoros ou o movimento dos planetas - forças fora do controle humano".
Extraído do livro Máquinas da Democracia de Roger Burlingame.
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