quinta-feira, 24 de julho de 2014

Descontos de Grimm II



A Gata Borralheira Era uma vez um homem que tinha duas esposas. Este homem tinha três filhas, uma da primeira esposa e as outras duas da segunda esposa. Acontece que a filha da primeira tinha a pele muito branca, mas o coração negro e maldoso. Seu nome era Emanuelle; e as filhas da segunda tinham a pele bronzeada, mas o espírito alvo como a neve. Eram muito trabalhadeiras estas duas, Mona e Lisa eram os seus nomes, mas Emanuelle era preguiçosa e fofoqueira. Mona e Lisa cresceram fortes e robustas e Emanuelle cresceu franzina e branquela, pois estava sempre dentro de casa enquanto suas duas irmãs estavam estendendo roupa, cuidando o jardim, colhendo verduras na horta e frutas no pomar.

E assim chegaram dias em que Mona e Lisa deram um basta, diziam elas: - Quem quiser pão terá de merecê-lo. Essa preguiçosa que vá para a cozinha! Tiraram-lhe seus lindos vestidos, fizeram-na enfiar roupas velhas e deram-lhe um par de tamancos para calçar. Então levaram-na para a cozinha, e gritavam rindo:

- Vejam a bela princesa, como está bem vestida!

Ali passava ela o dia inteiro ocupada com trabalhos pesados. Pela manhã levantava-se antes de raiar o dia, carregava água, acendia o fogo a lenha, cozinhava e lavava roupa. E não era só isso. Suas irmãs ainda ralhavam com ela constantemente para que não fugisse aos deveres. À noite cansada de tanta trabalheira logo adormecia numa cama improvisada junto ao calor do fogão. Por isso andava sempre empoeirada e suja e todos em casa a chamavam de Gata Borralheira por causa das cinzas do fogão.

Certa vez o pai, pretendendo ir à feira, perguntou às irmãs Mona e Lisa o que desejavam que lhes trouxesse de presente.

– Lindo vestidos – disse uma delas.

– Pérolas e pedras preciosas – disse a outra.

E tu Borralheira – indagou o pai – o que desejas?

– Pai na sua volta, corte o primeiro ramo floreado que lhe tocar o chapéu e traga-o para mim.

O homem, que era rico, comprou belos vestidos, pérolas e pedras preciosas para Mona e Lisa. De regresso, ao cavalgar pelo mato, um ramo de ipê lhe fez cair o chapéu. Quando chegou em casa deu a cada filha o que haviam pedido. Borralheira pegou o ramo e plantou-o no quintal. O ramo foi crescendo, crescendo até tornar-se uma bela árvore. A Borralheira ia lá três vezes por dia, chorava e rezava para não ter mais que trabalhar daquele jeito.

Aconteceu que o rei organizou uma festa que deveria durar uma semana e as moças mais formosas foram convidadas para que o príncipe herdeiro escolhesse dentre elas a sua esposa. Quando as duas irmãs Mona e Lisa souberam que haviam sido convidadas ficaram que não cabiam em si de alegria e chamaram logo Borralheira que não havia sido convidada.

– Penteia-nos – disseram-lhe. Escova nossos sapatos e fecha as fivelas. Vamos à festa no palácio real.

Borralheira obedeceu mas começou a chorar porque também gostaria de ir ao baile. Pediu pois à sua mãe que a levasse.

– Por que não fui convidada, por que não fui convidada? – murmurava ela.

– Quem sabe o convite se extraviou Emanuelle – disse-lhe a sua mãe.– Vá tomar um banho para tirar as cinzas da tua pele, depois vista o teu melhor vestido de festa e adorna-te com as tuas melhores jóias.

Então ela foi e vestiu um vestido bordado a ouro e prata e uns sapatinhos adornados de seda. Infelizmente, a mãe de Mona e Lisa não gostou da ideia de Emanuelle ser eleita a princesa. E pra não arrumar briga a mãe de Emanuelle proibiu-a de ir ao baile. Quando Mona e Lisa chegaram ao lugar da festa, o príncipe que era alto, olhou por cima das moças, e falou:

– Falta uma moça , o censo diz que há 300 moças no meu reino. Eu tenho ciência de tudo que se passa no meu domínio e eu sei que falta uma moça prendada que dispensa até o uso de criados. Mandem buscá-la!

Enquanto isso Emanuelle chorava e suplicava à sua mãe que a permitisse ir ao baile. A moçoila levou um susto quando a carruagem real parou na sua porta e mandou-a entrar. Enxugou logo as lágrimas e recompôs-se. Só então entrou na carruagem. Logo estavam de volta no baile. O príncipe foi ao seu encontro, deu-lhe a mão e dançou com ela. Depois dançou com as suas irmãs Mona e Lisa, uma de cada vez. E tornou a dançar com ela. Dançou com todas as moças convidadas. E sempre tornava a dançar com ela. Se acaso outro se aproximava para convidá-la, ele dizia: – Ela já tem par. Borralheira dançou até tarde, quando, então, quis voltar pra casa.

– Vou acompanhar-te – disse-lhe o príncipe, pois pretendia pedir a sua mão ao seu pai. Mas ela conseguiu escapar-lhe e se refugiou no celeiro junto com os gatos. Era arisca a Gata Borralheira.

No dia seguinte, na hora de começar a festa, a carruagem veio apanhá-la de novo e trouxe-lhe um vestido mais belo que aquele do dia anterior. Quando a moça se apresentou no palácio, todos ficaram assombrados diante da sua beleza. O príncipe que já a esperava o tempo todo, logo tomou sua mão e só dançou com ela. Se aparecia outro para convidá-la, ele dizia: – Ela já tem par.

Quando a jovem quis retirar-se, o príncipe a seguiu ansioso para pedir a sua mão. Ela, porém, desapareceu rapidamente no celeiro de gatos. Ele procurou-a aqui e ali, abriu a porta do celeiro e só viu vários pares de olhos mirando-o fixamente. Então fechou a porta intrigado e, Emanuelle saiu de trás da porta.

No terceiro dia, a carruagem veio apanhá-la e trouxe-lhe um vestido magnífico, como ainda não tivera igual, e os sapatinhos eram inteiramente dourados. Ao se apresentar na festa com aquele traje belíssimo, os convidados se surpreenderam tanto que não podiam fechar a boca de admiração. Alguns a tiveram por ladra, pois, diziam eles “Da onde ela arrumou a fortuna que custa esse vestido?”.

O príncipe só dançou com ela e, se alguém a convidava ele dizia: – Ela já tem par. Na hora de sempre Borralheira se despediu. O príncipe quis acompanhá-la, mas a moça lhe escapou com tanta rapidez que ele não a pode seguir. Desta vez, porém, o príncipe recorrera a um ardil. Deixara um cavaleiro de plantão na casa da moça em localização estratégica. Assim, mal a moça adentrara o celeiro dos gatos foi agarrada pelo braço. De volta ao palácio o rei a recebeu e também ao seu pai.

No dia seguinte a mãe de Mona e Lisa protestou:

– Mona e Lisa são muito mais bonitas que essa..., essa Gata Borralheira; merecem muito mais a oportunidade de ser princesa.

E o marido que já havia aceito dar a mão de Emanuelle em casamento acabou por ouvi-la para acabar com a importunação. Voltou ao palácio levando as duas consigo e bradou:

– Só posso dar a mão de Emanuelle se Vossa Alteza aceitar desposar primeiro uma dessas minhas duas filhas.

E o filho do rei lançou mão de mais um ardil, ofereceu às duas irmãs um casamento pomposo com dois ilustres duques e o título de duquesa a cada uma delas. Trato feito e selado! De volta para casa o cocheiro cantarolava:

"A noiva verdadeira não é essa que aí vai! É a cozinheira, é a lavadeira, é aquela por quem o coração do príncipe cai!"

Ao chegar o dia do casamento, estavam as três moças uma mais formosa que a outra e entraram juntas na igreja, e festejaram juntas no mesmo baile e foram felizes para sempre.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Descontos de Grimm



Essa é a minha versão do conto da Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez uma menina tão boa e carinhosa que todos, só de olhá-la, lhe ficavam querendo bem. Mas quem mais a estimava mesmo, era a sua avozinha, que já não sabia o que fazer para mimá-la. Certo dia deu-lhe, de presente, um chapeuzinho vermelho, de veludo. Assentava-lhe tão bem que a pequena não queria usar nenhum outro e por isso a chamavam de Chapeuzinho Vermelho. Disse-lhe um dia sua mãe:

– Chapeuzinho Vermelho, aqui tens um bolo e uma garrafa de vinho; leva-os para tua avozinha. Ela ficará mui contente. Põe-te a caminho antes do sol forte e, quando estiveres lá fora, anda direitinho e não te afastes da estrada; poderás encontrar o lobo mau. Quando entrares no quarto, não te esqueças de dizer “bom dia”.

– Farei tudo como disseste – respondeu Chapeuzinho.

Acontece, porém, que a avozinha morava no bosque, cerca de meia hora da vila. Quando Chapeuzinho entrou no bosque, levantou os olhos e, ao ver dançar os raios de sol por entre as árvores e tudo em torno cheio de lindas flores, pensou “Se eu levo um ramo à avozinha, lhe dou uma alegria; é cedo ainda e chegarei a tempo”. E afastou-se do caminho para entrar no bosque à procura de flores. Quando colhia uma, parecia-lhe que, um pouco mais adiante, havia outra ainda mais bonita e, assim, penetrou cada vez mais no fundo do mato. E eis que surge o lobo. Chapeuzinho assustou-se mas surpreendeu-se com ele pois mostrou-se “camarada”:

– Onde vais Chapeuzinho?

– Vou à casa da minha avozinha.

– Queres que eu te acompanhe? Há muita maldade por aí, tu precisas de proteção.

– Quero sim, vou levar essas flores para ela e, também, bolo e vinho. Chegando à casa da avozinha, Chapeuzinho bateu à porta.

– Quem está aí?

– Chapeuzinho Vermelho que traz bolo e vinho para ti. Abre!

A avozinha reconheceu a voz da netinha e abriu a porta. O lobo não perdeu tempo e, de uma só vez, devorou as duas. Ficou com uma pança de 5 meses de gravidez. No entanto, o caçador ouvira os gritos das duas e pusera-se a caminho da casa da avozinha. Quando chegou lá viu a avó na cama, com as cortinhas fechadas, a touca quase lhe tapando o rosto, apresentando um aspecto muito esquisito.

– Avozinha – disse ele – como estão grandes os teus olhos.

– É pra te ver melhor.

– E como estão grandes as tuas mãos.

– É pra te pegar melhor.

– Mas, avozinha, que boca mais horrível.

– É pra te comer melhor!

Mal disse isso o lobo saltou da cama e foi atingido por uma bala da espingarda do caçador. O lobo caiu semi-morto. O caçador largou a espingarda, pegou o lobo de ponta-cabeça e sacudiu bem, devolvendo assim Chapeuzinho Vermelho e sua avozinha à vida. A menina exclamou:

– Como me assustei! E que escuridão na barriga do lobo!

O caçador deu mais um tiro no lobo que caiu morto no chão. Os três, então, se sentiram muito felizes. O caçador tirou a pele do lobo e levou-a consigo. A avozinha comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho lhe trouxera. A menina, por sua vez, pensou “Nunca mais me afastarei, sozinha, do caminho, quando minha mãe o tiver proibido”.