segunda-feira, 22 de março de 2010
O verdadeiro Sherlock Holmes, parte III
Preciso avisar aos apressadinhos de plantão para evitarem as conclusões precipitadas, porque o destino desta análise crítica pretende ter um fim inesperado.
Doyle nasceu numa família católica irlandesa em Edinburgo, Escócia em 1859. Aos 11 anos ele foi enviado à uma escola Jesuíta, Stonyhurst College, no qual diz ter passado “5 anos solitários e infelizes”. Depois de obter seu Bacharelado em Medicina e Mestrado em Cirurgia da Universidade de Edinburgo, Doyle desenvolveu um grande interesse pelo espiritismo. Em um artigo que apareceu em MQ (jornal oficial da Grande Loja Unida da Inglaterra), o Maçon Yasha Beresiner explica os interesses de Doyle pelo espiritismo e pela Maçonaria. Em suma, ele explica que em 1887, ano em que Doyle se tornou um maçon, ele também entrou na Sociedade para Pesquisa Psíquica. Com este estado de mente, em 26 de Janeiro de 1887, Arthur Conan Doyle foi iniciado na Maçonaria na Loja Phoenix no. 257 em Southsea, Hampshire.
Na Loja Phoenix no. 257, Doyle ficou amigo de um certo Dr. James Watson. Beresiner também aponta no artigo que Doyle subiu rápido nos graus e em 23 de Fevereiro de 1887 ele passou ao segundo grau e um mês depois, em 23 de Março se tornou um Mestre Maçon.
Algum tempo depois ele saiu da Maçonaria apenas para retornar a ela várias vezes em sua vida. A Maçonaria foi mencionada algumas vezes nas publicações de Doyle, mesmos aquelas não focadas em Sherlock Holmes. Através de suas aventuras, Sherlock Holmes (que não era Maçon) provou ter bastante conhecimento da Maçonaria, observando anéis e outros ornamentos maçons com facilidade.
Doyle formou-se na Universidade de Edimburgh em 1881. Abriu um consultório como oftalmologista e esperou a chegada dos doentes. Seis anos depois continuava ainda à espera. Desesperado pela falta de meios de subsistência experimentou a literatura. Depois de uma tentativa desanimadora e sob a influência de Gaboriau e Poe, decidiu em 1887 tentar escrever uma história detetivesca. Para a prossecução desse objetivo, porém, necessitava de um novo detetive.
Eis o que ele conta - Sir Arthur - sobre a criação de Sherlock Holmes:
-À platéia de Watsons tudo parecia miraculoso até que o Dr. Bell explicasse e aí tudo se tornava simples. Não admira que depois de estudar uma personalidade dessas eu usasse e ampliasse seus métodos quando, mais tarde na vida, tentei criar um detetive que elucidasse casos em funçãos de seus méritos e não da loucura do criminoso. Bell interessou-se vivamente por esses contos policiais e fez sugestões que não eram, sou forçado a dizer, muito práticas.
A partir de 1884 eu andara trabalhando num sensacional livro de aventuras e que representou a minha primeira tentativa de produzir um texto de narrativa contínua. Senti então que seria capaz de escrever algo mais conciso e estimulante, mais profissional. Gaboriau me atraía bastante pelo encaixe preciso de suas tramas, e o genial detetive de Allan Poe, Sr. Dupin, era desde a infância um dos meus heróis. Mas será que poderia acrescentar algo de meu?
Pensei no meu velho professor Joe Bell, no seu rosto aquilino, nos seus modos curiosos, no seu estranho dom de observar detalhes. Se ele fosse detetive certamente reduziria essa atividade fascinante mas desorganizada em algo mais próximo de uma ciência exata. Tentaria obter o mesmo efeito. Se sem dúvida era possível na vida real, porque não conseguiria torná-lo plausível na ficção?
É muito fácil dizer que um homem é sagaz, mas o leitor quer ver exemplos dessa sagacidade. A idéia me divertiu. Como haveria de chamar ao protagonista? Ainda guardo uma folha de caderno com várias opções de nomes. Primeiro escolhi Sherringford Holmes e a seguir Sherlock Holmes. (Sherlock era o primeiro nome de um amigo de Conan Doyle, jogador de críquete e Holmes veio do jurista americano Oliver Wendell Holmes).
Ele não poderia relatar as próprias investigações, por isso precisava de um companheiro comum que lhe servisse de refletor - um homem instruído e ativo que pudesse ao mesmo tempo acompanhá-lo nas investigações e narrá-las. Um nome insípido, discreto, para esse homem simples. Watson serviria (John Watson). Assim me decidi e escrevi Um estudo em vermelho.
Dois assuntos
Queria tratar de dois assuntos.
Fiquei pensando o que o espetáculo 'Quidam' do Circ du Soleil quer dizer com isso. Fiquei estudando o pôster de divulgação. Tem um cara pintada de cabeça raspada mostrando uma luva de boxe. Quem sabe significará Quidamne-se? Vou pesquisar.
O outro assunto. É sobre as pessoas que lêem o meu blog e depois ficam criticando. Só vou dizer uma coisa: Ninguém é obrigado a ler o meu blog.
quarta-feira, 17 de março de 2010
O verdadeiro Sherlock Holmes, parte II
Uma tarde, o Dr. Bell estava sentado à sua secretária, no Hospital Real de Edimburgo, quando alguém bateu à porta. "Entre", disse ele. Entrou um homem. O Dr. Bell fitou-o.
" - Por que motivo está preocupado?
- Como sabe que estou preocupado?
- Porque deu quatro pancadas na porta. Quem não está preocupado bate apenas duas, no máximo três vezes."
O homem estava, de fato, preocupado.
Este é o relato de Sir Arthur Conan Doyle:
Foi em outubro de 1876 que comecei meu curso na Universidade de Edimburgh. A personalidade mais notável que conheci foi um certo Joseph Bell, cirurgião no hospital de Edimburgh. Bell era um homem extraordinário de corpo e mente. Era magro, vigoroso, com um rosto arguto, nariz aquilino, olhos cinzentos penetrantes, ombros retos e um jeito sacudido de andar. A voz era esganiçada. Era um cirurgião muito capaz, mas seu ponto forte era a diagnose, não só de doenças, mas de ocupações e caráteres.
Por alguma razão que nunca compreendi, ele me distinguiu dentre os muitos estudantes que frequentavam as suas enfermarias me encarregando de seus pacientes externos, o que significava que tinha de receber esses pacientes, anotar sucintamente os casos e fazê-los entrar por um corredor numa grande sala onde Bell se assentava em majestade cercado de assistentes e alunos. Tinha então oportunidade ampla de estudar seus métodos e reparar que muitas vezes ele aprendia mais sobre um paciente com os olhos do que eu com as minhas perguntas. Por vezes, os resultados eram impressionantes, embora houvesse ocasiões em que errasse.
Em um dos melhores casos, em silêncio, o Dr. Bell examinava o doente externo de um hospital. Depois falou:
- Bem, você serviu no Exército num regimento escocês e não foi desmobilizado há muito tempo.
- Sim, senhor doutor.
- Era oficial e esteve em Barbados.
- Sim, senhor doutor.
"Bem vêem, meus senhores, que sendo embora o doente um homem respeitador não tirou o chapéu - costume próprio do Exército, que ele, contudo, teria perdido se tivesse sido desmobilizado há muito tempo. Tem um ar autoritário e é obviamente escocês. Quanto a Barbados o seu mal é elefantíase, o que indica as Índias Ocidentais."
Anos depois, Conan Doyle continuava suficientemente impressionado para o incluir no seu conto de Holmes 'O Intérprete Grego.'
quinta-feira, 4 de março de 2010
O verdadeiro Sherlock Holmes, parte I
Fiz uma compilação de textos sobre Sherlock Holmes, seu "criador" Sir Artur Conan Doyle e seu protótipo, o Dr. Joseph Bell . No final emendei uma análise crítica. É uma viagem e tanto.
Uma noite, nos finais do século passadoa após uma caçada na Escócia, num fim-de-semana, uma dúzia de convidados sentou-se em torno de uma mesa a discutir crimes famosos ainda por solucionar. Um dos convidados, o Dr. Joseph Bell deixava os outros estupefatos com as suas acrobacias dedutivas. O Dr. Bell era uma eminente cirurgião, cujas aulas verdadeiramente fascinantes, influenciaram durante 5 décadas os estudantes da Universidade de Edimburgo, entre os quais Conan Doyle, Robert Louis Stevenson e James M. Barrie.
"A maior parte das pessoas vê mas não observa - dizia ele. Examinem um homem com atenção e descobrirão a sua nacionalidade escrita no seu rosto, o seu nível de vida, nas suas mãos, e o resto da sua história, na sua forma de caminhar, nos seus gestos, objetos de adorno e nos fios que aderem à sua roupa." "Um paciente entrou na sala onde eu estava a dar lição a alguns estudantes de Medicina. 'Meus senhores - disse eu -, este homem foi soldado num regimento escocês, provavelmente músico da banda.'
Chamei então a atenção para a arrogância do seu andar, sugerindo o tocador da gaita- de-foles; a sua baixa estatura sugeria-me que, se tivesse sido soldado, fizera provavelmente parte da banda. Mas o homem insistiu em que era sapateiro e, além disso, que nunca servira no Exército. Pedi-lhe para tirar a camisa, e vi então um pequeno D azul gravado na sua pele. Era essa a forma pela qual eram habitualmente marcados os desertores durante a Guerra da Criméia. Finalmente, o homem confessou que pertenceu à banda de um regimento escocês. Era realmente elementar, meus senhores."
A isto um dos ouvintes observou: "O Senhor doutor quase podia ser Sherlock Holmes." O Dr. Bell explicou-lhe: "Meu caro senhor, eu sou Sherlock Holmes."
O Dr. Bell foi realmente - como Artur Conan Doyle admitiu na sua autobiografia - a inspiração para o imortal detetive de ficção.
As regras de Sherlock Holmes para a dedução e análise repetiam apenas as normas aconselhadas pelo Dr. Bell na vida real. "Sempre insisti junto dos meus alunos na enorme importância das pequenas características pessoais, no profundo significado dos pormenores", declarou uma vez o Dr. Bell a um repórter.
"Quase todas as profissões, por exemplo, deixam as suas marcas. As cicatrizes do mineiro são diferentes das do carpinteiro. As calosidades do carpinteiro não são as do pedreiro. O soldado e o marinheiro tem portes diferentes. E, especialmente, com uma mulher, o médico pode muitas vezes afirmar com exatidão de que parte do corpo ela vem se queixar".
Segundo afirmava o Dr. Bell, o desenvolvimento da observação era imprescindível para os médicos e para os detetives, mas qualquer homem poderia transformar o seu mundo monótono num mundo de emoção e aventura, desenvolvendo essa faculdade.
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