sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Euclides sem Lágrimas II



...Sua própria ignorância facilitou-lhe renunciar à complicada escrita pictórica e aos ideogramas que embargavam o progresso das primitivas civilizações do Egito e da China. Lançou mão dos velhos símbolos, para representar as sonoridades de sua língua mais simples. Adotou um bom alfabeto com que começou a compor frases claras e simples. Ninguém lhes ensinara que "no princípio era o Verbo", que no princípio "era o caos" (entendi que haviam sido alunos de judeus...). A ordem (social, política, econômica, etc), fê-la ele, depois de se familiarizar com o caos (à sua maneira, meio pagã meio judaica).

Não sabemos se estes selvagens nórdicos que ocuparam o nordeste mediterrâneo tinham olhos azuis e cabelos louros (a única certeza que o autor tem é que eram arianos, ou seja, os arianos englobam um grupo maior de pessoas do que o nacional-socialismo alemão prega). Só sabemos que nada, em absoluto, justifica a crença de que as realizações científicas da civilização grega eram fruto de seu equipamento racial. Os dois famosos fundadores da geometria grega, Tales e Pitágoras, eram ambos de origem fenícia. A ciência e a matemática só penetraram no continente grego, quando este já se encontrava no fim de seu período de formação. A estrela da ciência grega já se punha no horizonte, quando o culto da filosofia começou. Grega nunca fora, no sentido continental da palavra. E a princípio, nem sequer o fora no sentido racial. (será que o autor sacaneou os gregos só por diversão? Não justifica que sim, mas também não justifica que não.)

A origem de Pitágoras talvez explique os sinais evidentes de influência chinesa encontrados em seus escritos. Pitágoras muito viajara pela Ásia. Quanto a Tales conhecera o Egito. Não cultivava a matemática como instrumento de perfeição espiritual. Provavelmente ficaria muito surpreendido se lhe dissessem que ela podia servir para isso. (parece que o autor quer esconder que os egípcios tinham a geometria sagrada por religião). A situação geográfica valeu a esses gregos jônios - como Tales - uma grande vantagem sobre seus contemporâneos chineses. Bem a podemos vislumbrar num fragmento de Demócrito. Eis as palavras dele:

"De todos os meus contemporâneos, fui o que mais viajou, o que mais conheceu a terra; visitei as regiões mais remotas, estudei os climas mais diversos, os mais variados países, ouvi mais gente. Ninguém me venceu em construções e demonstrações geométricas, nem mesmo os geômetras do Egito, entre os quais passei cinco longos anos."

Não é de admirar que Platão desejasse ver incendiadas todas as obras de Demócrito. Bernard Shaw elogiou a sabedoria do César fascista que assistiu, sem pestanejar, ao incêncio da biblioteca de Alexandria e à consequente destruição dos 60 tratados de Demócrito e de todas as realizações astronômicas dos alexandrinos. (aqui a astronomia é vista como a geometria dos céus). O mesmo fogo, por certo, destruiu também muita conversa-fiada inútil e prejudicial. Os males do intelectualismo grego (dos quais mencionei pelo menos um na série sobre trabalho), estes, porém, sobreviveram à destruição das chamas. Os bens, ficaram nas cinzas.

As únicas realizações substanciais que nos restaram foram a ciência corrompida (leia-se idealista, idealizada idealisticamente) de Aristóteles e a geometria platônica, levada por Euclides para Alexandria (e para muitas outras terras).

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Euclides sem Lágrimas



Encontrei num livro de Matemática uma breve história da literatura matemática e da literatura em geral, ou do que restou dela. Aí está o resumo:
...Até cerca de 2000 a.C muito pouco se fez no sentido de inventar princípios gerais relativos à contagem e medição das coisas (foi por onde a matemática começou). A literatura matemática ainda não existia. O traçado na areia continuou a ser, por séculos e séculos, o único método resolutivo dos problemas geométricos... Os métodos pelos quais os homens fizeram as primeiras construções geométricas, com o auxílio de cordas e cavilhas, fio de prumo e nível d'água, são bem mais notáveis que os livros sobre eles escritos (a arquitetura é a geometria das construções).

Aos chineses cabe a glória de terem sido os primeiros a lançar as bases de uma literatura de grandezas. Meio milênio antes do gregos, eles já haviam descoberto regras gerais importantíssimas relativas às figuras. Também sobre os números descobriram muitas coisas interessantes misturadas, porém, com boa dose de bobagens. Lamentavelmente apenas uma parcela de seus conhecimentos chegou até nós. O resto se perdeu. Como as duas bibliotecas de Alexandria, as primitivas bibliotecas chinesas foram incendiadas. Esta calamidade não foi obra da guerra. O incêndio foi propositado tal como a destruição da cultura alemã pelo chanceler Hitler. Ordenou-o um imperador que acreditava, como Bernard Shaw, que os homens haveriam de escrever melhor se lessem um pouco menos.

Enquanto os chineses escreviam seus primeiros livros de matemática, o continente grego era invadido por certas tribos nômades provindas do norte. Esses invasores arianos eram originários de desoladas estepes, de raras noites estreladas. Não conheciam a arte de escrever. Ignoravam as artes da construção e do comércio. Não dispunham de pesos e medidas. Só o que sabiam era assolar as costas da Ásia Menor, onde fundaram pequeninos reinos como a Lídia, insignificantes cidades-estado, como Mileto, bem no extremo da grande cadeia de portos comerciais fundados pelos maiores comerciantes e navegadores da antiguidade....

Foi por intermédio dos fenícios-semitas que o homem nórdico contraiu a sua primeira dívida para com os judeus. Dívida esta, de aluno para com professor. Com eles aprendeu a ler, a escrever, a contar.


continua

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Feira do livro, cultura francesa e reflexões



Dei uma passada na Feira do Livro de Porto Alegre no feriado. Achei interessante o título do livro "Nem só de caviar vive o homem". Conta a história de Thomas Lieven - que de pacato banqueiro alemão em Londres, de repente vê-se transformado em agente secreto durante a Segunda Guerra Mundial - e suas aventuras, ora a favor dos alemães, ora dos franceses e até dos americanos. Estas são contadas a partir de refeições que ele preparou e serviu e, que, de alguma forma foram marcantes em sua trajetória.

No momento, entre outros títulos, estou lendo "Le Combat des Chefs", uma hilariante aventura em quadrinhos do guerreiro Astérix. Coincidentemente, verifiquei no catálogo da Fnac a respectiva versão em português. Também encontrei edições antigas do Astérix na Feira do Livro. A que estou lendo é da biblioteca da Aliança Francesa. Astérix é um 'petit guerrier' que deve a sua invencibilidade à poção mágica do sacerdote druida Panoramix. Do mesmo modo Abraracourcix, o chefe da aldeia gaulesa, é considerado invencível pelos romanos devido à poção mágica do druida. Graças à 'genialidade' de Obélix, fiel parceiro de Astérix nas suas aventuras, o druida perde a memória e parte da razão. Isto porque o 'éléphant' Obélix querendo salvar Panoramix da emboscada projetada pelos romanos, erra a mira e o acerta com um golpe de menir - aqueles megalitos que ele carrega nas costas para cima e para baixo.

Para curar Panoramix, outro druida é encarregado, Amnesix. Este consegue levar a cabo a sua missão poucos minutos antes de os irredutíveis gauleses quase perderem 'o combate dos chefes' para os romanos.

Segundo constatei na internet o livro poderá servir de inspiração para uma nova adaptação cinematográfica em 2013.

O escritor francês Gérard de Sède, fala sobre a 'embriaguez sagrada entre os celtas':

"A poção mágica de Astérix não é mera ficção" - diz ele. Aqui Astérix é definido como o 'herói gaulês de uma história em quadrinhos ambientada na Gália ocupada pelos romanos, no século I a.C.' Diz mais: "Entre os gauleses, e entre os celtas em geral, o consumo de bebidas inebriantes era um ato mágico-religioso, cujo objetivo era provocar o entusiasmo poético e profético."

"Uma das pedras do altar de Nautes, descoberta no século XVIII, no perímetro de Notre-Dame de Paris, e conservada no museu de Cluny, mostra o deus em cuja honra se celebravam essas libações na Gália. Trata-se de Cernunnos, senhor da vegetação e, por conseguinte, de qualquer fecundidade material e espiritual. Tem cornos de cervo, essa galhada que cai e volta a crescer, aumentando de ano para ano, só começando a diminuir na velhice extrema, como acontece com as árvores da floresta".

"Cernunnos era considerado a alma dos vegetais. Quando se moía o trigo, ele morria supliciado, mas ressucitava na primavera com os brotos verdes dos cereais. Consumindo bebidas alcoólicas produzidas com grãos moídos, os celtas acreditavam incorporar, mediante uma espécie de eucaristia bárbara, a própria substância de cernunnos. Por isso, o nome cerveja é uma referência direta ao deus-cervo. O homem, embriagado, profetizava pela boca do deus".

Não só profetizava pela boca do deus como era também possuído pelo deus, daí a invencibilidade dos guerreiros gauleses.