quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As jibóias e os enfantes



Bem, pra quem ainda não leu o livro do Pequeno Príncipe - ei-lo aqui outra vez - vou resumir o começo da história. O narrador do texto que é também o personagem coadjuvante conta brevemente que na sua infância, lá pelos 6 anos de idade ficou muitíssississimo impressionado com uma figura que ele viu em um livro. Essa figura retratava uma jibóia devorando uma fera. E mais impressionado ainda ele ficou com o que se dizia sobre a figura. Era algo como: As jibóias só pensam em comer e dormir, ora estão devorando uma presa, ora estão sesteando. Mentira, não é nada disso. O que ele leu foi exatamente: As jibóias engolem sua presa completamente inteira, sem a mastigar. Em seguida, elas não podem mais mexer-se e elas dormem durante os seis meses da sua digestão.

De lápis de cor na mão o princepezinho conseguiu traçar seu primeiro desenho. Era assim:



Todo orgulhoso da sua façanha, ele mostrou sua obra-de-arte às 'pessoas grandes' e perguntou-lhes se o seu desenho lhes causava medo. E elas prontamente responderam-lhe: - Porque um chapéu causaria medo?

Mui decepcionado o príncipe fez um segundo desenho, mais detalhado, para que as 'pessoas grandes' pudessem compreender o que significava. Este era assim:



Deu pra entender agora? Era uma jibóia que digeria um elefante.

Continua o personagem-narrador a contar a sua experiência: As pessoas grandes me aconselharam a deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas e me interessar de preferência à geografia, à hitória, ao cálculo e à gramática. Foi assim que abandonei à idade de 6 anos uma magnífica carreira de pintor (Ó coitado!). Fora desencorajado pelo fracasso de meu desenho nº 1 e de meu desenho nº 2.

Esta parte que é boa, pura ironia: As pessoas grandes nunca comprrendem nada sozinhas e é fatigante para as crianças sempre e sempre lhes dar explicações.

Por isso, ele aprendeu a pilotar aviões e viajou, por quase todo o mundo. Teve, assim, ao curso de sua vida, montes de contatos com montes de pessoas sérias. Viveu muito no meio das pessoas grandes. Viu-as de muito perto. Mas isso não melhorou a sua opinião.

Veja lá, isto é um desabafo gente: Quando eu encontrava uma que parecia um pouco lúcida eu fazia com ela a experiência do meu desenho nº1 que eu sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas ela sempre me respondia: - É um chapéu. Então eu não lhe falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Eu me colocava ao seu alcance. Eu lhe falava de bridge, de golf, de política e de gravatas; E a pessoa grande ficava muito contente de conhecer um homem tão razoável.

Aqui termina o capítulo I. E considerando que já faz mais de meio século que o livro foi escrito, até que serve de consolo. Afinal, a alienção da burguesia paaarece ser um filme bem antigo.



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