terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sobre ombros de gigantes




Quem vive no meio cientista conhece bem a luta dos pesquisadores pra ter um artigo ou teoria creditado ao seu nome. Robert Hook foi um desses. É. Aquele matemático que formulou a Lei de Hook, que serve pra descrever o movimento de uma mola, e que serviu pra modelar quase toda a Física. Tem físico que diz "A Física é a física do oscilador harmõnico".

Acontece que Hook construiu a sua teoria com base no trabalho do cavaleiro Sir Isac Newton. E como ele era um sujeito humilde - mui - teve que reconhecer a superioridade e importância do colega. "Se eu tenho visto mais longe é por estar apoiado sobre ombros de gigantes".

O gigante era obviamente Newton, que era bem baixinho.


Uma do Patropi




Me lembro bem do dia em que eu fui pra aula com um moletom amarelo enfeitado com três flores bordadas. O meu colega, vulgo Patropi, olhou aquilo e falou: Lisany, não passa na frente do Jardim Botânico com essa roupa que eles vão te recolher. He he he.


Tramando em sala de aula




Tinha um professor que saía no meio da aula pra, diz ele, ir ao banheiro. "Porque eu tomei muita água". Um dia, após ele fazer isso, falei pra os colegas, dois só, que ele tinha ido consultar a demonstração do teorema no livro.

Daí uns minutos ele voltou e perguntou o que a gente estava tramando. Repeti pra ele o que eu tinha sugerido pra os colegas. Sabe que ele gostou da brincadeira? Dali em diante ele não disse mais que ia ao banheiro. Em vez disso dizia que ia consultar o livro.

Eu tinha um péssimo costume de chegar atrasada na aula, não suportava aquela lenga-lenga inicial. Eu gostava de chegar depois que a aula já tinha pegado no tranco. Muitas vezes me senti desconfortável ao fazer isto porque não é muito respeitoso. Até o dia em que o professor chegou atrasado também.

Na outra aula bem cara de pau me justifiquei: Se até o professor chega atrasado quem sou eu pra chegar na hora?

Hoje em dia eu só chego na hora. Cansei da rebeldia.

Tive uma amiga, a Luciana que me ensinou algo importante: Antes pegar meia aula do que não pegar aula nenhuma.


O Gabinete da Reitora




A primeira vez que eu a vi foi em uma formatura. Ela ia a todas incrivelmente e pronunciava um discurso inflamado. Eu tinha certeza que ela ia ingressar na política. Pra mim ela era uma celebridade, uma dessas mulheres de ferro. Eu queria chegar perto dela pra ver se ela parecia tão fantástica de perto como de longe. E demorou. Só consegui realizar este sonho no dia em que ela veio discursar no ILEA, no Campus do Vale.

Peguei duas gestões da Wranna Panizzi na Ufrgs. Eu, às vezes, ficava rodeando a reitora, pra ver se ela passava onde eu estava, mas ela só passava de longe. Cheguei a subir lá no gabinete dela. Dizia: GABINETE DA REITORA. Bem assim, no gênero feminino. Mal tive coragem de espiar lá pra dentro. Era muita ousadia, até falta de educação, ficar bisbilhotando a reitora, eu calculava.

Então chegou o meu grande dia de sorte e eu fui assisti-la e ouvi-la no auditório do ILEA pela primeira vez. ILEA é a sigla do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados. A sala estava lotada. Tinha gente sentada até no carpete.

A reitora discursou por alguns bons trinta minutos sem ser interrompida nem vaiada, e no final abriu um espaço pra perguntas. Choveram pedidos de verba. Inclusive, imaginem que miséria, pra papel de impressora. Foi quase cômico. A Wranna prometeu atender a todos e à fulana do papel de impressora também.

É comum faltar dinheiro pra papel de impressora na Ufrgs. Alguns professores tiram do próprio bolso, outros ficam economizando o máximo que der. E também falta no banheiro tanto papel higiênico quanto papel toalha. É artigo de luxo.

Desta vez eu não podia perder a chance de ver a reitora de perto. Antes que ela saísse do auditório me postei ao lado de fora da porta. Logo ela apareceu e ficou olhando pra ver se eu queria alguma coisa. Eu virei pra o lado desconcertada e tentando disfarçar.

Fiquei bastante realizada por conhecer a reitora de ferro, dois mandatos na Ufrgs quase completos. Só fiquei triste porque não falei com ela. Mas falar oquê? E ela estava com muita pressa. Pensando bem. Podia ter pedido um autógrafo.


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Milagre no Estacionamento




Eu não sei de tudo que rola no campus do vale, mas é de conhecimento geral o problema de segurança que existe naquela imensidão de espaço meio vazio e rodeado por mato. Eles tentam esconder as ocorrências pra não alarmar a comunidade discente.

O Professor Fernando Lang contava um desses casos, assim irônico:
No estacionamento da Física uma aluna foi pega por um tarado. Ela gritava: Me larga! Me larga! Me larga!
Semana passada pegaram uma professora solteirona. E ela gritava: Milagre! Milagre! Milagre!

Coisa do Lang mesmo. Ele é bem debochado. Quer dizer, um pouquinho. Na aula dele, a epistemologia, ele manda a gente pra o quadro dar aula, aí fica malhando os nossos erros e zomba e ri. Se diverte às nossas custas. E ensina e discute. Enfim, me parece um professor realizado.


A Resistoca




Cada curso tem o seu diretório, que é uma saleta de jogos usada também para questões discentes como vender camisetas, fazer carteirinha de passagem escolar, assistir TV, ouvir rádio, beber cerveja... Pensando bem, é uma salinha de questões burocráticas na qual é possível/permitido jogar ping-pong, xadrez e sinuca. E beber.
Isso é muito importante: beber. Desde que proibiram a venda de produtos alcoólicos nos bares e restaurantes da Universidade.

Eu não sei bem qual foi o caso com o diretório da Letras: a Toca. Acho que queriam tomar a sala deles. Então fizeram um movimento chamado Resistoca. Com refrão A Toca é Nossa. A gente acompanhava porque ela fica localizada num lugar privilegiado à vista de todo mundo que entra no Campus do Vale. Mais claramente, no subsolo do Instituto de Letras.

Por falar nisso, alguém aí me diga que fim levou a Toca.


O Vale dos Gnomos




Atrás do prédio da FAUFRGS tem um lugarzinho com umas mesas e churrasqueira e coisa e tal. Pra chegar lá tem que passar por cima de um valo através de uma tábua solta. Eu nunca iria descobrir se não fosse o Renato Arrieche ter me apresentado o local, que ele apelidou de Vale dos Gnomos. É um dos bretchs do campus do Vale. Não tão frequentado quanto as costas do RU, o local sagrado.

Tem professor que fuma também, e nem conta aquela bobagem de "fumei mas não traguei". Entre os maconheiros o professor que fuma é top de linha. Grandão.


As Figuras Mitológicas




O Campus do Vale teve pelo menos três figuras mitológicas: O Claus, O Peter Pan e O Shmagorath. O Claus estudava Física no meu tempo. Estava lá há alguns bons anos. Já tinha até sido jubilado. As pessoas dizem que ele não consegue acompanhar as aulas. Ele adora perguntar as horas. Pra qualquer indivíduo. Sem mais sem menos ele te ataca no corredor e pergunta "Que horas são?". E também no meio da aula, em alto e bom som, pra o professor, que responde desconcertado e fica torcendo pra ele ficar quieto. Como ele não está matriculado efetivamente ele escolhe uma disciplina por semestre pra assistir e fica pentelhando o professor a aula inteira, isto é, quando ele vai. Só assiste quando dá na telha.

Ele faz outras perguntas também, além da tradicional. Parecem perguntas cretinas, mas tem fundamento e numa dessas ele pegou o professor desprevinido. Acho que ele estava mais concentrado que o professor e no fim este teve que concordar que o aluno tinha razão. Foi o dia da glória do Claus.

O segundo personagem era um sujeito franzino, de boa aparência, nariz aquilino e vestia umas roupas coloridas, contrastando bem os tons, de um corte semelhante ao traje do Peter Pan. Onde mais eu o via era nas cercanias do RU e da BSCSH, respectivamente, Restaurante Universitário e Biblioteca Setorial de Ciências Socias e Humanidades.

Não se manifetava como o Claus, nunca sequer ouvi a voz dele. Mas a sua simples aparição no Campus me deixava tão alvoroçada como quando eu era criança e lia a historieta do Peter Pan. Era pra mim o próprio, ou melhor, a fantasia dele que tinha tomado forma humana. Nós, entre amigos, ríamos e debochávamos da sua roupa esquisita. Acho que ele nunca se deu conta que tinha admiradores acompanhando os seus movimentos.

Parecia ser aluno regular de algum curso de humanas e eu acreditava que ele se vestia assim por alguma excentricidade apenas. É que o Campus do Vale não dita moda. Toda e qualquer vestimenta, até de monge, pode ser pelos seus frequentadores trajada e respeitada. Digo os seus frequentadores porque vão lá alunos de outros campi também, pra fazer turismo, pesquisar nas bibliotecas ou encontrar amigos.

Conheci um cara que dizia saber reconhecer um estudante de engenharia só pela roupa. E parece possível mesmo. O óculos de sol, o jeans de grife e a camiseta de motivo surfista é quase uma unanimidade. As gurias de baby look e mini saia no verão. Cabelo moderninho. Bolsa e sapato de salto no inverno. Patrícios e patrícias.

Por outro lado se o cara usa cabelo comprido ou barba comprida ou dread locks e toca gaita de boca pelo corredor afora (tinha um cara assim, aquilo ecoava), fuma maconha, veste camiseta do Bob Marley ou do Che Guevara, pode crer que não é engenheiro.

O último personagem mitológico, o Shmagorath, é, de fato, um personagem que habita as paredes dos banheiros masculinos. É o desenho de um monstro cheio de tentáculos com um olho no meio da testa, que alguém, sempre o mesmo carinha, rabisca com caneta de tinta azul. Em baixo ele escreve: Shmagorath virá.

O próprio me explicou que ele não inventou esse personagem, apenas copiou-o de um video game no qual era viciado. E inclusive ele roubou, quero dizer pegou sem a minha permissão, uma caneta de slides do meu estojo, só pra desenhar o Shmagorath.

Certa vez eu estava lá nas Catacumbas (Engenharia Velha), vendo meus e-mails. No meio do processo saí pra ir ao banheiro misto. Quando entrei gritei: Não acredito. Até nas Catacumbas. Foi a primeira e última vez que eu vi o dito cujo na parede de um banheiro.

Não vou contar que o responsável por toda essa baderna nas paredes branquinhas era estudante de Engenharia Química e que o nome dele é Renato Arrieche.

Só um lugar fértil como o Campus do Vale pra produzir um Claus, um Peter Pan e um Shmagorath.


A sessão de fotos




Dia 12 de outubro. Foi o dia que a produtora agendou para as nossas fotos do convite de formatura. Perdemos de passar o dia no lazer ou no ócio (pra quem gosta), mas ganhamos um dia de celebridade: foto com barrete, sem barrete, séria, sorrindo, vibrando, mandando beijo, vibrando, festejando, deu pra encher um álbum.

As gurias da comissão de formatura tiveram a grande idéia de levar um espelho grande de parede. Sorte minha porque saí de casa apressada e nem tive tempo de passar batom. Vermelho. Que coisa pomposa. A toga. Uma moça ligeira me vestiu. Falou: Anota ali no papel: GG. Só roupa de formatura mesmo. Meu colega criticou, pra ele é coisa ultrapassada.

Mas arcaico mesmo foi o sino da igreja repicando às 9 horas da manhã. Não sei como conseguem, em pleno século 21, tudo digitalizado, eletrônico. Deviam baixar um toque de sino direto do site do Vaticano.

Eu, verbo solto, falei bem alto que poderiam ter colocado um fundo infinito pra clicar a gente. Acho que a fotógrafa ouviu. Antes de fotografar o meu grupo (formamos grupos de 7 ou 8 pessoas) ela falou o que já tinha falado pra todos os anteriores: Vocês desculpem essa parede manchada e descascada aí atrás. É o que a casa oferece (A UFRGS). Depois ela sorriu e explicou: É brincadeira tá pessoal. Podem ficar tranquilos que os nossos designers gráficos vão fazer um recorte e colocar alguma coisa relativa ao curso de vocês no fundo da foto. Ufa!

Éramos só três do bacharelado além dos trinta e três da licenciatura. Aproveitei a demora inicial da produtora pra conversar com os meus dois colegas. Conversávamos sobre banalidades e eu empolgada introduzi o assunto da literatura. Eles ficaram atentos. Contei a eles que eu estava escrevendo umas coisas e que planejava publicar um livro algum dia.

Tão logo chegou a produtora subimos as escadas perigosas e barulhentas daquele prédio amarelo que fica de frente pra o Parque da Redenção. É mais conhecido como Anexo 2 da Reitoria. Lá fizemos as fotos com a camiseta do curso naquele fundo maravilhoso. No intervalo das fotos eu tentava puxar conversa com os guris e eles só respondiam o que eu perguntava. Depois ficavam calados de novo. Eles são um poço de comunicação. Ou eu que sou chata mesmo.

Terminada a sessão descemos as escadas para a foto no logo da universidade. A grama estava molhada da chuva recente. Foi emocionante.

Criei um apego por esta universidade. Céus! Ela construiu o meu futuro. E não foi só o diploma. Grande parte das idéias e filosofias que circulam na minha mente foram filtradas, analisadas, formadas e discutidas nos assentos, corredores, salas, bibliotecas e bares. Ela me ensinou a pensar.

Finalmente após uma série de cliques de duas sequências de fotos com dois fotógrafos distintos subimos as escadas de madeira de novo, agora para a foto individual. Desta vez noutra saleta com fundo infinito e todo o aparato de estúdio fotográfico. A gente ia tirar aquela foto em que todo mundo sai bonito: a foto "salva feio". Também todo mundo produzido, né?

Enquanto aguardávamos voltei a puxar conversa com os meus coleguinhas. Estávamos em pé. As cadeiras amontoadas num canto. Meus pés cansados do salto alto. Falei da minha pressa. Fiz um pequeno drama. O Daniel chispou: Como tu é ansiosa Lisany. E eu não só confirmei, como acrescentei: Sou ansiosa mesmo, sou tão ansiosa que chego até a pensar no meu velório. Às vezes imagino se será trágico, se estará lotado, se o dia será chuvoso, se o pastor fará discurso breve, se contarão uma pequena biografia sobre mim.

O Daniel e o Leandro me sugeriram solicitar como eu gostaria que fosse para aqueles que estivessem em vida colocassem em prática. Fui direta: Festivo. Definitivamente não gosto de choradeira.

Conversa vai silêncio vem ficou combinado que o Daniel faria o juramento e eu, pra minha alegria, o discurso. Explicaram: Já que tu gosta de escrever. E eu que tinha chegado na Reitoria triste, refletindo sobre os últimos acontecimentos desagradáveis da minha vida saí de lá bem entusiasmada. Afinal de contas sempre fora meu sonho fazer o discurso de formatura. Nem vergonha de falar em público eu tinha. Superei com facilidade a timidez dos meus 15 anos. Não que eu seja a Fafá de Belém com aquelas gargalhadas espontâneas e falar desabrido. Mas perco a noção de público quando estou tomada por alguma emoção forte. Não enxergo ninguém. E também sou de Belém.

Guardei uma frase do produtor. Eles fazem todo tipo de eventos, desde batizado até funeral. Ele contou a frase que ele mais ouve em festas de casamento: Meu pai já casou contigo, meu irmão já casou contigo, minha prima já casou contigo, agora eu vou me casar contigo.

No words.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Orquestra I



Tive um colega na matemática que era proveniente da Música. Bom violinista ele; eu o acompanhei a alguns casamentos e concertos. Como havia abandonado o curso pela metade ele continuou fazendo algumas disciplinas no Instituto de Artes. Referiu-se em uma ocasião à cadeira de Orquestra I. Só que como não estava regularmente matriculado eu tive a curiosidade de saber que espécie de participação ele tinha com a aula de Orquestra I. E perguntei a ele bem faceira: Está fazendo como ouvinte?

O método socrático



Era uma aula de Álgebra Linear. Meia dúzia de gato pingado, os que sobraram das duas dezenas iniciais.

Tem um conceito em algelin que se chama produto interno. É uma operação definida num espaço vetorial sobre os reais, coisa descomplicada e muito útil. Pois é, essa operaçãozinha aí obedece a três propriedades: bilinearidade (significa que ela é duplamente linear), comutatividade e positividade. Até aqui tudo muito compreensível e claro.

Acontece que o professor tinha a mania de começar um capítulo novo fazendo perguntas sobre o assunto a ser abordado que obviamente ninguém sabia responder porque ninguém estuda a matéria antes de o professor introduzí-la. Pelo menos na maioria dos casos. A essa humilhação alguns chamam de método socrático, isto é, método de perguntas e respostas.

Mais adiante nos foi introduzido um espaço vetorial um pouco mais avançado definido sobre os complexos e no dito cujo definiu-se um novo produto interno que não era bilinear, era um pouco menos que isso. Era sesquilinear.

Em seguida o professor mandou uma pergunta na minha direção:

-O que é sesqui Lisany?

Falei SESC pra mim é ali na Protásio Alves.

Apenas uma questão de linguística.



Máquina movida a café



Tinha um amigo na Ufrgs, mestrando em Física, o Alberto. Era um tipo quieto de óculos de aro preto, meio tímido.

O Alberto tinha um gosto peculiar: gostava de café forte. Mas forte mesmo. Minha curiosidade me obrigou a perguntar a ele o que era um café forte no conceito dele.
Ele conseguiu me surpreender: é quando tu viras a xícara pra baixo e o café não cai.

Outra vez eu estava na sala de aula, no início do período, viajando na maionese, o professor parou na frente do quadro, olhou pra mim e mandou eu me ligar. Expliquei: é que eu estou com sono, não durmi direito esta noite porque blá, blá, blá, e como eu não bebo café preto o jeito é enfrentar a sonolência a custo do aprendizado mais sóbrio.

E ele me veio com uma que me deixou besta. Ele me questionou algo:

- Tu sabe qual é a definição de matemático?

- Não.

- É uma máquina movida a café.
Bem, era a opinião dele. Não sei se todos os matemáticos concordam. Não investiguei.

Manual de Sobrevivência do Professor



Confira as 10 maneiras de se livrar de uma demonstração.

I)Diga que é evidente/óbvio/claro

II)Deixe como exercício

III)Deixe pra próxima aula

IV)Diga que é análogo a um caso anterior e que pode ser obtido via mutatis mutandis

V)Diga que precisa sair um pouco antes pra dar um seminário e aproveite pra fazer um grau

VI)Explique que a sua sogra está doente no hospital e que você ama muito ela, se possível derrame uma lágrima e depois peça pra sair

VII)Diga que é facílimo e que "vocês podem consultar o livro texto"

VIII)Diga que "está além do alcance desta disciplina"

IX)Empurre para o final da aula e quando chegar a hora H olhe no relógio:
"Infelizmente não vai dar tempo pessoal". No início da próxima aula finja que já demonstrou e siga em frente com a matéria

X)Diga a verdade: que é enfadonho e que você deseja evitar a fadiga

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Dia em que o Céu caiu



Logo que entrei na Ufrgs a prática de educação física não era mais uma disciplina obrigatória. Foi uma pena porque de qualquer maneira eu precisava fazer algum exercício. E ainda teria que pagar por ele.

Por alguns meses fiz natação na semi-olímpica da Esef. Pra quem é desesperado por natação aqueles vestiários congelantes no inverno eram um mero detalhe. Aliás, o desafio de enfrentá-los tornava a natação ainda mais especial.

Mais adiante minha colega Luciana me convidou para jogar no time de basquete da Esef. Ela entrou no time oficial e eu no outro, o dos que estavam aprendendo. Não aprendi grande coisa. Meu esporte é a natação.


Um fato marcante naquelas noites foi o vento terrivelmente gelado, de urrar, que lambia a nossa pele na esquina da Santa Casa na volta do treino. E também as corridas para pegar o Jardim Botânico na João Pessoa. Eu sempre ficava pra trás.

Que memórias!

Mais adiante descobri uma promoção de 50% para universitário na Sogipa e me matriculei. Lá vivi no paraíso. Era legal por causa dos eventos esportivos que eu assistia frequentemente e também porque eu podia nadar nos finais de semanas e feriados. Também passei muito frio no trajeto entre o vestiário e a piscina. Aliás, é assim em toda parte. Até na Puc com aquela infra-estrutura toda de última geração tu tiritas de frio. Quando abre aquela porta de vidro então nem se fale. A diferença de temperatura forma um vento digno de pneumonia...


Ultimamente tenho nadado numa piscina relativamente pequena, destas de hidroginástica. Esses dias em um momento viagem interrompi a natação e fiquei parada mirando o teto cor de água que estava acima da minha cabeça.

No segundo andar fica a musculação. Toda aquela parafernália com os seus respectivos pesos e também os halteres e as anilhas. Tudo tão levinho que se caísse na piscina ficaria boiando n’água. Tendo me dado conta do perigo que me ameaçava concluí que eu sou confiada demais e que o ser humano não faz nada que seja bom de todo.

Terminado o treino entrei no vestiário e em poucos minutos, uns 45 min, estava pronta para tomar o caminho de casa: mais 10 min à pé. Assim o fiz alegremente porque o exercício me deixa muito pra cima, tanto que eu seria capaz de sair abraçando os meus poucos inimigos.
Por esse motivo que a médica nutróloga me mandou tomar aminoácidos após o treino. Não, não é para eu não sair abraçando os meus raros inimigos. Pelo contrário. É pra prolongar o efeito ‘felicidade plena’ do exercício e eu consequentemente ter mais tempo para abraçá-los. Ki lindu!


Por azar naquele dia o céu estava cheio de cúmulos nimbos anunciando tormenta. Não que eu a despreze.
Qualquer um deles: a tormenta, o toró, o pé d’água, o temporal, o pedilúvio são para mim a manifestação da natureza de que está viva.

- Ei terráqueos! Olha eu aqui de novo. Olha o relâmpago. Sorria!

O relâmpago sempre nos atinge antes que o trovão. As pessoas dizem que ele chega antes. Pudera! A luz se propaga quase um milhão de vezes mais rápido que o som.
Tem dia que a natureza furiosa mata terráqueos com seus dardos de descargas elétricas.

- Pra que tanto ódio Natureza?

- Eles estão me destruindo. Os humanos, buáááááá, estão me destruindo.

Ele chora copiosamente inunda rios e arrasa plantações. No outro dia um pouco mais consolada sorri um solzinho mixuruca. Passada uma semana ela já esqueceu as mágoas e sorri um sol brilhante.
Assim é a natureza. Sentimental.


Pela estrada alegre eu ia bem contente quando aconteceu o inacontecível: o céu desabou na minha cabeça. Tive que segurar um palavrão destinado ao engenheiro do céu.
Literalmente fiquei esmagada debaixo da abóbada celeste. Se pelo menos ela tivesse caído por inteiro eu teria escapado do esmagamento visto que o seu formato é côncavo para cima.

Mas não, ele caiu e despedaçou-se nas minhas costas. Nunca tinha pensado nessa possibilidade todas aquelas vezes em que olhei embevecida para o firmamento.
E eu, gemendo ali em baixo daquele peso todo, olhei para o lado e vi que o carinha da raia adjacente continuava nadando. Pombas! Fingi que nada tinha acontecido e meti o braço n’água outra vez.



Foto da Formatura_2






Foto da Formatura_1






Discurso de Formatura







Ilustríssimo diretor do Instituto de Matemática professor doutor Rudinei Dias da Cunha, iustríssimos professores homenageados professores doutores Vilmar Trevisan e Luís Fernando Carvalho da Rocha, ilustríssimo funcionário homenageado secretário José Leonardo Galicchio Aronna, prezados pais, queridos amigos e demais componentes da mesa.


Nós, agora bacharéis em matemática, quando ainda estudantes, frequentemente ouvíamos perguntas sobre o caráter do nosso estudo:
Qual a aplicação da Álgebra Linear?
Pra que serve a Análise Matemática?
Pois bem, qual é a moral de correr 90 minutos atrás de uma bola? Pra a maioria é exercitar o corpo e aumentar o vigor. Da mesma forma, o bacharelado em matemática serve para exercitar o cérebro e desenvolver a inteligência. Além de cumprir com a sua função básica que é a de nos ensinar os fundamentos desta ciência.
Tais considerações lançam uma vaga luz sobre essa tão mal interpretada área do conhecimento. Minha missão nesta noite é desmistificá-la.


Acompanhe comigo uma aula de Geometria Diferencial. O professor dirige-se ao quadro e escreve: Uma superfície é dita orientável quando existe uma função normal definida em todos os seus pontos. Por exemplo: A esfera é uma superfície orientável. Contra-exemplo: A faixa de Möebius não é orientável. Nesse instante alguém interrompe a aula e divaga: Imagina o Pequeno Príncipe na faixa de Möebius. Fiquei imaginando quantas milhares de pôr-do-sóis ele poderia contemplar caminhando sobre esta superfície. Ao que o professor responde: Deixa de Saint-Exupéry. Te aconselho a ler o escritor argentino Luís Borges.


Jorge Luís Borges era um aficcionado pela lógica e análise matemáticas. Entretanto o pueril piloto de aviões Antoine Jean Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint-Exupéry desde cedo aprendeu o valor do Cálculo Diferencial e Integral segundo ele mesmo conta no Pequeno Príncipe: As pessoas grandes me aconselharam deixar de lado os desenhos de serpentes abertas ou fechadas e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática.


A aula prossegue. O professor volta a escrever no quadro e agora demonstra usando a definição que a faixa de Möebius não é orientável. Outra divagação: E a teoria da contestação de Nietzsche, onde fica?


Não que exista tal teoria de fato. Era só pra testar o professor. A questão levantada em sala de aula era se aquilo que nos fora ensinado é ou não uma verdade absoluta. A propósito: a teoria do eterno retorno de Friederich Nietzsche foi indiscutivelmente contestada por Luís Borges que para tanto fez uso da Teoria Probabilística.


Resumindo: Há na matemática espaço para a dúvida e para o questionamento no que se refere à definições e à postulados, porém não no que se refere à demonstrações. Pois ao contrário da fragilidade dos argumentos e da dissensão típica das humanidades a matemática exibe uma construção sólida e clara, que a todos se impõe com a força de demonstrações incontestáveis e que atravessou incólume as crises de pensamento instauradas pelos novos ventos da Renascença.
A validade das proposições matemáticas parece pairar acima das contingências de espaço e de tempo sugerindo a possibilidade de seguras e perenes verdades imunes à corrosão do ceticismo.


Mais do que isso, segundo Frans Burman, teólogo contemporâneo do matemático e filósofo De Kart, com quem trocou algumas idéias, a matemática acostuma o espírito a reconhecer a verdade porque encontramos nela raciocínios rigorosos que não encontraríamos alhures. Em consequência, uma vez afeito o espírito aos raciocínios matemáticos te-lo-emos também tornado apto à pesquisa de outras verdades posto que em toda parte há uma e somente uma forma de raciocínio.



Greve e Sacanagem na Ufrgs



A Universidade está se encaminhando para uma nova greve. O professor entra na sala, coloca o molho de chaves e o livro em cima da mesa, e começa a choramingar o tamanho do salário:

- Eu ainda não descobri uma maneira rápida de ganhar dinheiro, hoje em dia só se o cara for traficante. Tu viu? Os servidores da USP já estão fazendo greve.

- Quem? A OSPA?

- Que significa OSPA?

- Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.

- Não, é a USP.

- Que interessante! A OSPA não está fazendo greve. É que a música por si só satisfaz.

- É. A música dá prazer. É uma boa resposta.

Outra vez o professor lembra com saudades dos tempos da juventude:

- Quando eu era jovem, feliz e contente, eu...

- Que tu queres dizer? Que hoje tu não és feliz e contente?

- Tu não tens saudades da tua infância querida que os anos não trazem mais?

- Se eu fosse tu eu procurava ajuda.

No dia da prova encontro o professor sério e formal:

- Oi.

- Bom dia.

- Não sei pra que fazer pose de coronel em dia de prova.

- Tu estás me chamando de velho.

- Não estou não.

- Pra ser coronel tem que ser velho.

- Eu não sabia, estava falando de poder e não de idade.

O professor entrega a prova para os alunos e começa a ler as questões em voz alta. Protesto:

- Espera aí, essa questão aqui é aquela que tu não quiseste resolver na aula de exercícios. Que sacanagem!

- É. Eu sou sacana.

Motivação para a Leitura



Well, isso aqui é uma visão discente da Ufrgs.