quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Teia de Aranha III: Salvo pelo Marimbondo




O mosquito chegou bem perto da teia de aranha e de lá gritou:
- Que está fazendo aranha?
A aranha apareceu daí uns minutinhos na janela da teia:
- Estou preparando molho pra salada.
- Posso saber o que vai nesse molho?
- Vai vinagre, azeite-de-oliva, pimenta-do-reino, uma pitadinha de sal e limão.
- Ah. Tá fazendo molho vinagrete. Mas espera aí. O vinagrete não leva limão. Acho que tu está inventando coisa.
- Eu inventando história? Mas que ofensa! Não acredita em mim?
- Então tu não sabe a receita.
A aranha ficou furiosa.
- Tá me chamando de ignorante ou é impressão?
O mosquito ficou sem resposta. E a aranha emendou um convite:
- A propósito, quer almoçar comigo hoje? Com limão ou sem limão eu sei que tu é chegado numa salada.
O mosquito foi categórico, curto e grosso:
- Já tenho convite pra almoçar hoje. Marquei com uma mosquita gatíssima no Borboleto Ratskeller.
A aranha ficou contrariada. Desfez do encontro do mosquito:
- Ah sei. Qualquer mata-mosca acaba com a tua felicidade em um segundo.
- Não há mata-moscas no Borboleto. Eles usam inseticidas - retrucou o mosquito cheio de razão.
A aranha caiu na gargalhada.
- Ah é? E como tu esperas sobreviver aos inseticidas?
- Vou de máscara. Só tiro depois que estiver instalado na mesa. Os garçons não costumam colocar inseticidas nas mesas.
- De qualquer forma - insistiu a aranha - a minha salada é melhor e mais variada. No Borboleto só tem salada de batatas.
O mosquitinho não se deixou persuadir. Até se aborreceu com a insistência da aranha. Já ia saindo quando viu aproximar-se da teia outro mosquito. Parou pra ver e ouvir. A aranha aplicou a mesma conversa no visitante recém-chegado e este já estava fazendo as manobras necessárias para pousar na teia ante os olhos estarrecidos do primeiro mosquito que jazia paralisado de horror.
De repente ouviu-se um grito:
- Fogo!!!!!!!!
O mosquito desavisado tomou um susto e brecou na hora. Olhou para trás. Era o marimbondo:
- Cuidado meu filho! Aranha não come salada, come mosquito.


sábado, 26 de setembro de 2009

Aquele dia de chuva e de sorte



Caía um forte temporal no Rio de Janeiro. O Instituto de Matemática Pura e Aplicada começava a liberar os estudantes ao final de mais um dia de esforços. Mas voltar para casa como? A água estava na altura do joelho. Algumas mulheres conseguiram passar a noite em casa de colegas ali no Jardim Botânico mesmo. Dos que moravam longe, quatro doutorandos de Geometria Diferencial passaram num bar para abastecer e beber. Depois retornaram ao IMPA e já instalados em uma sala confortável se aplicaram na demonstração de uma equação que há tempos os desafiava. E ali ficaram até tarde, já era meia noite quando finalmente conseguiram o resultado desejado. Uma solução a quatro mãos nas palavras de um deles.

Creio que é isso que move o matemático: a excitação mental. Nas palavras de Sherlock Holmes: Minha mente rebela-se contra a estagnação. Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o criptograma mais obscuro ou a mais intrincada análise, e estarei em meu elemento Eu posso viver então sem estimulantes artificiais. Mas eu abomino a rotina monótona da existência. Eu anseio por excitação mental.


sábado, 19 de setembro de 2009

A Teia de Aranha II: Como tomar Decisões



O mosquito sobrevoava a teia da aranha com uma graça tamanha que fez ela parar pra ver. Aquelas asas brilhantes e um meio que sorriso safado no lábios, como só aqueles mosquitos que conhecem o seu potencial de seduzir aranhas tem fizeram-na arrepiar-se toda. No seu íntimo a aranha prometeu-se conquistar = papar, o mosquito todinho. Nâo deixaria nem uma perninha de fora.

O mosquito por sua vez procurava uma aranha séria, que tivesse uma proposta séria. Estava cansado daquelas aranhas fáceis e atiradas. Às vezes, até, desesperadas. Ficou por ali voando pra lá e pra cá pra lá e pra cá a ver o que sairia dessa aranha.

E parece que estava tendo sorte porque a aranha estava babando na teia e não demorou a declar-se apaixonada pelo mosquito. Emocionado desceu à teia tomou a aranha nos seus braços, beijou-a e os dois se amaram por nove semanas e meia.

O mosquito estava andando nas nuvens, ou melhor, nas teias. E a aranha estava também bastante satisfeita mas parecia um pouco enfarada, como se fosse só mais um amante-mosquito na sua vida. Enfim, o relacionamento vingou, e os dois casaram-se. Um marimbondo pediu a benção sobre a vida dos dois e eles partiram em lua-de-mel para uma teia cinco estrelas no Hawaii.

Passados alguns meses do início da vida a dois a aranha sentia um tédio horripilante. Seu instinto de aranha, quando via um mosquito sobrevoando a teia, fazia ferver o seu sangue. Suas patas ficavam todas moles e ela suspirava: - Ah, que saudades da minha vida de solteira.

Até que um dia a oportunidade escancarou-se à sua frente. Um lindo mosquitinho, bem jovem, com a metade da idade dela, fez uma rasante na teia. Subiu em seguida e desapareceu. A aranha sentada na varanda da teia esforçou a vista mas não conseguiu visualizá-lo mais.

No outro dia a mesma coisa: o mosquito jovenzinho pulsante de energia vital, os hormônios jorrando nas artérias, quase arrancou a sua cabeça num voo rasante sobre a teia. A aranha, que a princípio só o observava, ficou quedada de interesse pelo mosquito. A intuição do mosquito diz que para atrair é preciso fugir. E ele fugiu. De novo. Desapareceu na primeira esquina.

A paquera da aranha durou quatro meses. No primeiro dia do quinto mês o mosquito caiu na teia. E tornou-se amante da aranha. O mosquito gostava muito da aranha e a aranha dele. E o mosquito começou a pressionar a aranha para ela assumir a relação. Colocou a aranha na parede e ela pra se aliviar da pressão inventou uma mentira: - Mosquito jovem eu sou casada. Sabe, a nossa relação não anda muito bem, a gente anda dormindo em teias separadas, logo logo a gente vai se separar. Será que dá pra ter um pouco de paciência?

O mosquito que era muito vivido, e conhecia bem as aranhas, pegou as asas, colocou-as nas costas, penteou as antenas, e disse adeus à aranha. A aranha ao mesmo tempo triste e curiosa perguntou à ele por que motivo tomara aquela decisão. E o mosquito respondeu-lhe: - Estatística aranha. É por causa das estatísticas, que dizem que 95% das aranhas não deixam dos seus aranhos-mosquitos para ficarem com os seus mosquitos-amantes.



sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Teia de Aranha



Lá na nossa sala de estudos - sala B duzentos e alguma coisa - andei reparando hoje, tem uma teia de aranha bem no cantinho do teto. Embora as faxineiras passem umas três vezes por semana pra tirar o lixo e limpar o chão e o quadro, deixaram escapar uma teiazinha. Hoje, quando elas abriram a porta e mostraram aquela cara de tacho, como sempre todo mundo reuniu os seus pertences, levantou acampamento e saiu sem falar nada para a outra sala de estudos que fica do lado desta. No meio desse trantorno todo, perdi a vontade de estudar e tive um ataque de inspiração. Veja lá:

A aranha, assim que avistou o mosquito ficou paradinha, olhos arregalados, na espreita. Qualquer pontinha do pé que o mosquito colocasse na teia ela VUP, egolia-o na hora.

Mas o mosquito não fazia nenhum movimento na direção dela. Pelo contrário, ficava sobrevoando a teia em espiral como que observando-a. A aranha pensou: Quem sabe ele quer um dinheirinho. Bem, é conveniente esperar. Em último caso eu dou uns trocados pra ele. Se não precisar é lucro pra mim.
Era uma aranha pobrinha!

De vez em quando o aranho dela saía de um local secreto e trocava umas palavrinhas com ela como que dando umas dicas. Eram cúmplices os dois.

O mosquito levado pela curiosidade perguntou:
- É seu marido?
E a aranha zombeteira:
- Não é o marido da outra que eu peguei pra fazer caridade.
O mosquito insistiu:
- Ô aranha, fala sério.
- É o marido da outra que eu peguei emprestado uns minutinhos.
O mosquito desistiu.

O tempo foi passando e nada do mosquito pisar na teia. Desesperada a aranha passou a ofendê-lo:
- Seu mosquitinho de merda. Não é mosquito o bastante para pisar na minha teia. Mosquito interesseiro. Tá querendo grana, né? Tá achando que eu sou sócia do banco?

E o mosquito nem tchum. Não adiantou nada a pressão da aranha.

A aranha queria ao menos exclusividade:
- Mosquito traíra, fica namorando todas as teias da vizinhança.
E a aracnídea querendo traçar o mosquitinho e mais a torcida do grêmio toda.
Era uma aranha nojenta!

Por fim a aranha calou-se e passou a refletir. Aquela situação era por demais excepcional. Nunca dantes algo parecido havia lhe ocorrido. Um mosquito que espiralava sobre sua teia mas não caía nela. Nem com pressão. Tinha que intuir algo rapidamente.

- Ah! Já sei - concluiu a aranha. - É um mosquito crente, desses proselitistas. De certo é isso. O mosquito quer me converter. Quer que eu mude de vida, que eu páre de enganar mosquitos e me entregue pra Jesus. Só pode ser isso. Que outro motivo ele teria pra ficar na minha cola? Bem, talvez eu esteja me precipitando em tirar uma conclusão apressada. Vamos primeiro interrogá-lo. Porque a verdade é dialética.

A aranha fez sinal com uma das oito patas para o mosquito, e este aproximou-se dela.

- Ei mosquito. Qual é a tua hein? Se não vai chegar dá o fora. Tá me atrapalhando de comer outros mosquitos.

O mosquito estava na mesma:
- Pô aranha! Eu só queria saber qual era a tua. Tava te observando apenas.
E voou pra longe.

Logo que ele desapareceu o aranho entrou na teia e comentou:
- Mosquito esperto esse!


domingo, 6 de setembro de 2009

Notícias do Patropy




Curti demais esse segundo e-mail do Fagner, nosso colega de matemática, que partiu na última segunda-feira para Porto, cidade marítima de Portugal, onde ele "pretende" fazer o doutorado. Estou repassando para vocês:

Ola amigos , que saudade de vocês .

Vou contar um pouco de como estou , um pouco sobre a viagem e algumas coisas inúteis.

A viagem foi muito, boa fora as 10 horas na mesma posição e um cheiro meio desagradável de ... , foi ótima. Chegando a Madri, sim fiz conexão em São Paulo e em Madri, tentei exercitar meu portunhol, afinal convivi algum tempo com a Adri e o Ivan . Foi um desastre, os espanhóis falam muito rápido e são muito gentis também. Se tu não entende basta perguntar de novo e eles te mandam a .... Vendo que não iria conseguir me comunicar em espanhol, pedi que as pessoas que trabalhavam no aeroporto falassem em inglês, isso conseguiu ser pior ainda. Lembram aquele inglês que as aeromoças falam, pois acho que o deles é uma mistura de inglês com espanhol, resumo não entendi nada.

Já no avião conheci alguns portugueses, que me convidaram para praticar yoga no domingo em uma praça. Conheci também vários brasileiros e um americano hiperativo que tentava, a todo momento, cantar as aeromoças, mas não conseguiu. Quando já estava totalmente esgotado, pois fiquei cinco horas no aeroporto de Madri, cheguei ao Porto. O metro me deixou a um quilometro da casa, e eu querendo economizar fui a pé com as malas nas costas, que experiência (me lembro até agora do caminho, minhas costas não me deixam esquecer). Chegando a residência conheci a dona Angela Braga, senhora muito simpática, e que insistia em me chamar de doutori, e eu insisto até agora em corrigi-la. Como todos estavam me chamando de doutori resolvi pedir para que me chamassem de outra coisa, e para me lembrar do Brasil, pedi para que me chamassem de Patropy. Até deu certo, hoje pela manhã ela me chamou de doutori Patropyre.

O interessante aqui é que você sempre estaire a fazeire alguma coisa: estaire a ficaire preocupado, estaire a almoçaire, estaire a jataire. Mas apesarde usar muito o gerúndio, fiquem tranqüilos, eu já estou a me adaptaire, hahaha.

Hoje fui passear um pouco. Eu o meu amigo escocês Chris. Tem sido a minha companhia e também o meu principal esforço mental, tentar entender o que ele fala naquele inglês escocês cheio de sotaque. Acreditem ou não, hoje quando conversávamos achava que ele estava falando sobre bolsas feitas com couro de cachorro, mas só depois percebi que para ele big e bag tem a mesma pronuncia. Caminhamos muito e também conversamos muito, não com a boca, mas por mímica. O cara é muito gente fina e eu to sem a Pati (te amo muito) e Diegão (também te amo), talvez eu invista, hahaha.

Hoje aconteceu algo muito esquisito, mediei uma discussão entre o Chris e um português. Ele deu dois euros a mais e o portuga disse que não. O português ficou muito irado começou a gritar e jogar todas as moedas em cima do balcão. O Chris também ficou muito bravo e vermelho como um pimentão e falava alto também. Como o Chris não entende português eu tive de ficar traduzindo as ofensas do velho português. Como o português já era mais velho, não falava inglês (não que idade e o fato de a pessoa ser portuguesa impessa ela de prender português, mas dificulta, hahha ), então fiquei traduzindo as ofensas do meu amigo. No final convenci os dois a se acalmarem.

Para finalizar estou lhes enviando umas fotinhos de meus passeios de hoje, algumas delas tiradas por mim e outras pelo Chris. Certamente muito batidas por mim, pois meu cérebro estava, a todo momento, querendo entender o que o amigo falava. Gostaria muito de agradecer a todos pelas festinhas de despedida que me proporcionaram. Saibam que tenho lembrado delas quando estou sozinho e também quando não estou, pois tenho apresentado vocês a meus amigos aqui de Portugal. Gostaria de dizer que eu amo a todos e pedir que sempre torçam por mim ( mesmo eu sendo do time adversário, ouviram Rosane, Douglas e Nicolau hahahah) .
Nota minha: o Patropy é gremista.

Um beijo para todo mundo,

Saudades

Patropy