quinta-feira, 26 de março de 2009

Esquizofrenia




O fiscal: - Nós estamos autuando este estabelecimento por causa de jogos de azar.
A mulher: - Mas como jogos de azar? Eu acabei de ganhar dois bingos.

Por que escrevi esta bobagem? Primeiro, porque ouvi isto na rua. Segundo, porque vou falar sobre John Nash, um expoente da Teoria de Jogos.
John Nash nasceu em 1928, filho de um engenheiro e uma professora. Desde cedo, demonstrou enorme talento para a matemática - sua primeira façanha foi demonstrar aos 14 anos um dos teoremas de Fermat. Estudou na Universidade de Princeton, que já foi chamada o "centro do Universo" da matemática (foi reduto de gênios como Einstein, Gödel e Oppenheimer). Lá, aos 21 anos, desenvolveu o teorema do equilíbrio em jogos não-cooperativos (o chamado Equilíbrio de Nash), que lhe valeria o Nobel 44 anos depois.

A ascensão meteórica foi interrompida pela esquizofrenia: em 1959, ano de sua primeira internação, dizia ter sido escolhido por alienígenas para salvar a Terra - eles se comunicavam por meio de mensagens no segundo editorial do New York Times, que só ele podia decifrar. Nos anos seguintes, mandava cartas para líderes políticos no intuito de formar um governo mundial e se julgava perseguido político - tentou em vão renunciar à nacionalidade americana. Após diversos tipos de tratamento, que incluíram eletrochoques, Nash passou mais de 20 anos vagando pelo Instituto de Estudos Avançados de Princeton e escrevendo mensagens incompreensíveis na parede.

Nos anos 90, ocorreu uma inesperada remissão da doença. O físico Freeman Dyson, também de Princeton, relata o susto que levou ao ver Nash responder ao seu cumprimento: "Foi lindo. O que eu achei maravilhoso foi esse lento despertar." Poucos anos depois do episódio, ele receberia o Nobel, que dividiu com Reinhard Selten e John Harsanyi.


Para mais detalhes você pode ler o livro
Uma mente brilhante
Sylvia Nassar (trad.: Sergio Moraes Rego)
Rio de Janeiro, 2002, Editora Record
585 páginas; R$ 43

Um ponto que eu gostaria de chamar atenção aqui é para a esquizofrenia de Nash. Algo que li no Manual de Psiquiatria diz que alguns intelectuais não tem estrutura física para suportar a intensa cerebração a que são submetidos. Em miúdos, a esquizofrenia de um gênio, ou o que o valha, é resultado, entre outros fatores, do excesso de esforço mental. Sorte do Nash que ele se recuperou.


Um comentário:

Liana disse...

Vale comentar que a esquizofrenia é causada pela dificuldade de distinguir realidade da imaginação e tem predisposição genética. É uma falha no cérebro, onde informações pessoais e do mundo externo se confundem.
Mas isso não impede uma pessoa de ser gênio. Então acho que ele foi um gênio apesar de sua doença. E não que ficou doente por causa de sua genialidade.
Não acho que muito esforço mental leve a loucura, a não ser que a pessoa não tenha bom senso para distinguir o que é realidade e o que é imaginação.
Talvez a genialidade dele tenha sido de grande ajuda para contornar a doença.