quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A abelhinha espiã I




Certa tarde me sentei no bar para tomar o meu suquinho de laranja e, me incomodei com as abelhas que ficavam rodeando a garrafa e me ameaçando de ferroadas. Não pensei duas vezes. Bebi o suco e terminado este passei a caçar abelhas do seguinte modo: deixava que uma abelha entrasse na garrafa, tapava em seguida e sufocava a pobrezinha ou matava-a afogada no restinho do suco que ficara no fundo. Repeti o processo inúmeras vezes. Estava radiante.

Achava que estava fazendo um grande favor para o bar do Antônio. No entanto, tão logo apareceu o garçom repreendeu o meu gesto e me tirou a garrafinha das mãos colocando-a no lixo ao lado da mesa. Foi aí que eu tomei consciência do meu ato. Refleti um pouco e concluí que a minha atitude, se copiada por outros, em poucos dias liquidaria com a colméia toda. E estando o campus localizado fora da cidade, não tinha grandes argumentos para fazer queixa da criação de abelhas.

Poucos minutos após a retirada da garrafinha outra abelha veio pousar na minha mesa e sorveu o néctar que havia escorrido da garrafa. Sensibilizada pelo xingão do garçom tratei de me redimir do mal que julgava havia praticado recentemente.

Deixei o volátil fazer o que bem entendesse e mais, iniciei com ele um diálogo:

- Muito prazer srta abelha.

A abelha ergueu uma sobrancelha e me olhou espantada, pasma, não acreditando no que acabara de ouvir. Pelo que repeti o meu cumprimento:

- Muito prazer srta abelha.

- ZZZ - ela respondeu em abelhês.

- Eu não entender a sua língua srta abelha. Por favor a srta querer falar em português?

- O prazer é meu - disse ela sem esforço.

Claro, de tanto conviver com os universitários, acabou aprendendo o português. E não só isso: estando o bar ao lado da biblioteca de Letras, a feiosa abelhuda tornara-se uma erudita, versada em literatura nacional e estrangeira.

- Que tal o suco? - perguntei-lhe, forçando uma conversa de antropóide para artrópode.

- Bom - foi a resposta dela apenas.

É que ela estava mais para o suco do que para mim. Sabe como são as abelhas: laboriosas. Uh! Abelha chucra essa. Workaholics!

Tentei algo mais elaborado:

- Srta abelha, desculpe interromper o seu trabalho, sei como é importante para a senhora pois dele depende o seu sustento. Aproveito a oportunidade para parabenizá-la por esse líquido precioso que a srta fabrica, o mel, e também o pólen, a geléia real, o seu veneninho, a apitoxina - tão medicinal - o própolis, e sabe-se lá o que mais. Mas gostaria da sua atenção agora. Pelo menos por alguns minutos.

A abelha parou imediatamente de lamber o suco e virou-se para mim toda ouvidos:

- Srta abelha poderia me fazer um favor?

- Claro srta Lisany.

- Poderia ir lá na sala dos professores e gravar o que eles dizem a portas fechadas?

No mesmo instante a abelha voou sem dar palavra na direção do corredor de acesso aos edifícios de gabinetes.

Fiquei só aguardando o seu retorno. No meio tempo em que esperava alguns amigos passaram pela minha mesa, sentaram-se, conversaram, levantaram-se e foram embora.

E eu continuava aguardando o retorno da apivoadora ansiosamente. Tão logo pousou na minha mesa gritou para os quatro ventos ouvirem:

- **** ***** *** * ****** * ** ******

Fiquei com muita vergonha. Abelha indiscreta essa!

Agradeci a abelhuda e tomei o caminho do prédio de aulas porque já faltava apenas um minuto pra começar o período.


Um comentário:

Liana disse...

hehehe, a abelinha passou uma mensagem criptografada... Essas abelhas de hoje em dia... :P